​Casos de infecção pelo HIV crescem 93,1% no Rio Grande do Norte em uma década

Publicado em 16 de dezembro de 2021

Entre os anos de 2010 e 2020, os casos de infecção pelo HIV no Rio Grande do Norte cresceram 93,1%, saindo de 3.190 para 6.158 na década analisada. Os dados constam no mais recente Boletim Epidemiológico HIV/Aids da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN) e foram analisados por preceptores médicos e multiprofissionais do Instituto Santos Dumont (ISD), em Macaíba. No estado, o documento detalha aumento de registros de casos em todas as faixas etárias, em ambos os sexos, assim como entre grávidas e na ocorrência de óbitos pela infecção. Na quarta-feira, 1º de dezembro, ações em todo o mundo foram dedicadas ao Dia Mundial da Aids, doença que já matou aproximadamente 33 milhões de pessoas desde sua descoberta, no início dos anos 1980.

 

O Boletim em referência foi elaborado pelo Programa Estadual de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), Aids e Hepatites Virais. Ele apresenta uma análise epidemiológica sobre os casos confirmados de Aids em adultos e crianças, de mortalidade pela doença, de infecção pelo vírus HIV, de grávidas infectadas e de crianças expostas ao vírus. Conforme exposto, entre 2010 e 2020, o Rio Grande do Norte apresentou 6.232 casos de Aids. Desses, 70 foram em menores de cinco anos de idade; 6.158 casos de infecção pelo HIV; 995 gestantes infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana. O número de óbitos pela doença, no período analisado, chegou a 1.365.

 

Em termos percentuais, somente a taxa de detecção do vírus em menores de cinco anos caiu no período: 43%. As demais aumentaram significativamente. A detecção do HIV cresceu 18,6% (de 14,0 para 16,6 casos por 100 mil habitantes). A ocorrência de gestantes infectadas pelo HIV aumentou 142% (de 1,2 para 2,9 casos por mil nascidos vivos). O número de crianças expostas ao vírus teve a evolução mais dramática: 877% de 2010 a 2020. A ocorrência de óbitos causados pela Aids cresceu, no mesmo intervalo, 15,7% em todo o Rio Grande do Norte.

 

“É uma doença de difícil controle. Depende do comportamento das pessoas. Há uma queda no uso de preservativos, principalmente entre os jovens. Em 2020, houve queda no número de testes e aumento na identificação de casos. Depende muito de cada um. Ações nas escolas, de forma educativa para os adolescentes, é muito importante. Quanto mais informação, melhor é a prevenção. Isso não tem sido realizado nas escolas públicas e privadas, por exemplo. O estado está preparado para esse aumento de demanda de casos, para atendimento de pacientes com HIV e Aids, com distribuição gratuita de medicamentos enviados pelo Ministério da Saúde. O ideal, porém, é conscientizar a população para a prevenção. Não é porque a Aids não mata mais como antes que as pessoas devem perder o medo de contrair a doença”, frisa Amanda Dantas, técnica do Programa Estadual de IST, Aids e Hepatites Virais da Sesap/RN.

 

Na década em questão, foram registrados 4.441 casos em homens (71,3%) e 1.791 casos em mulheres (28,7%). A Sesap verificou aumento na razão de sexos em 2020, com 3 casos em homens para cada 1 caso em mulheres. A maior concentração de ocorrência de HIV entre 2010 e 2020, foi observada nos indivíduos com idade de 30 a 39 anos (31,1%). A principal via de transmissão, no período analisado, foi a sexual, em 53% dos casos. Entre os homens, a categoria de exposição predominante foi a homossexual/bissexual com 27,5%. Entre o sexo feminino, a maior ocorrência é entre heterossexuais, com 55,6%. Nos homens, a faixa etária que apresentou maior variação foi a de 60 anos e mais (100%) e, nas mulheres, o maior crescimento foi observado na faixa etária de 30 a 39 anos.

 

A preceptora médica infectologista do ISD, Manoella Alves, faz um alerta em relação ao aumento de casos de infecção pelo HIV entre os mais jovens. “Infelizmente, no estado, assim como no país, a gente tem uma grande quantidade de jovens se infectando. Uma faixa etária entre 20 e 29 anos, na qual eu tenho feito muitos diagnósticos. O que é uma pena. Além de todo o trabalho para que esse jovem se proteja no ato sexual, existe a PREP, que é a Profilaxia Pré-Exposição. Esse programa existe dentro do Sistema Único de Saúde (SUS)”, ressalta.

 

Referência

O Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita), uma das unidades do ISD, é referência estadual para o Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimento de mulheres grávidas infectadas pelo vírus. De 2018 a 2020, o número de mulheres infectadas pelo HIV que realizam o pré-natal no Anita aumentou 45,45% – saindo de 11 para 16. De janeiro a setembro deste ano, 12 pacientes nessa condição tinham iniciado o tratamento multiprofissional, com equipe  composta por infectologista, ginecologista e obstetra, psicóloga, enfermeira, assistente social e farmacêutica bioquímica.

 

“Todas as gestantes que entram no Anita, em algum momento, irão fazer o teste rápido para HIV, sífilis e hepatites virais. O protocolo do Ministério da Saúde define que sejam realizados testes no primeiro trimestre de gestação, no início do pré-natal e outro no terceiro trimestre de gravidez. No momento do parto, a mãe é novamente testada para HIV e sífilis. Os dados do Boletim atual da Sesap apontam um reflexo do aumento do número de casos nesse público. A triagem durante a gestação é muito eficiente”, aponta Carla Glenda Souza  da Silva, preceptora multiprofissional psicóloga do ISD. Ela ressalta, porém, que além dos casos de infecção pelo HIV, há uma prevalência de ocorrência de sífilis entre as mulheres grávidas que pode resultar em sequelas irreversíveis ao bebê, como doenças  neurológicas graves, caso não tratada a tempo e de forma hábil.

 

Entre as mulheres grávidas soropositivas acompanhadas pelos profissionais do Anita, há uma adolescente de 15 anos de idade, corroborando as estatísticas da Sesap/RN. “Ela foi infectada aos 13 anos, na primeira relação sexual que teve, com o primeiro namorado. Há um perfil das mulheres que atendemos hoje: possuem baixa escolaridade, não possuem acesso à informação adequada, vivem em situação de vulnerabilidade econômica, são submissas aos companheiros por questões diversas. Muitos não aceitam o uso da camisinha. É difícil empoderar mulheres nessas condições, pois elas se sentem acuadas”, declara Carla Glenda Souza da Silva.

 

Para acompanhar mulheres nessas circunstâncias, o Setor de Serviço Social do ISD desenvolve um trabalho de intervenção que envolve a articulação com a rede intersetorial, formada por diversas áreas como saúde, segurança, educação, trabalho, entre outras. Ele visa garantir o cumprimento das consultas, a realização de exames, o deslocamento das pacientes em carros das respectivas prefeituras municipais às quais pertencem seus endereços e o recebimento ininterrupto da medicação antirretroviral. O tema da campanha deste ano para o Dia Mundial da Aids, elaborada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS) é: “Acabe com as desigualdades. Acabe com a AIDS. Acabe com as pandemias”. Esta data, segundo a OPAS/OMS, constitui uma oportunidade para apoiar as pessoas envolvidas na luta contra o HIV e melhorar a compreensão do vírus como um problema de saúde pública global.

 

“É extremamente importante a realização do acompanhamento das pessoas vivendo com HIV/Aids por equipes multiprofissionais, visto que a atenção demanda olhares diversos e complementares. O cuidado a estas pessoas requer uma atuação profissional especializada que possa promover a melhoria da qualidade de vida e o alcance dos direitos que lhe são assegurados. As articulações com os demais serviços que integram as redes municipal e estadual de atendimento buscam atender as demandas que ultrapassam o tratamento médico e medicamentoso, sobretudo, no que se refere ao preconceito e a dificuldade de acesso aos serviços básicos como educação, trabalho, cultura, lazer, entre outros”, afirma a preceptora multiprofissional assistente social do ISD, Alexandra Lima.

 

DADOS

 

Aids em Crianças

110 casos em crianças menores de 13 anos de idade (entre 2010 e 2020), das quais 70 foram diagnosticadas antes dos cinco anos de idade;

 

Binômio mãe-bebê

142% de aumento na taxa de detecção de HIV em gestantes;

 

117% no número de casos de gestantes infectadas pelo HIV;

 

77,3% das contaminações nessa faixa etária ocorrem pela transmissão vertical (mãe-bebê durante o parto);

 

Óbitos por Aids no RN

1.365 óbitos por Aids no RN na década analisada (977 homens e 388 mulheres) , com predominância em pessoas de 40 a 49 anos (28,7%);

 

15,7% de aumento de óbitos no período analisado;

 

Perfil das pessoas infectadas

70% dos casos de infecção registrados no RN até dezembro de 2020 ocorreram entre homens; com concentração na faixa etária de 20 a 29 anos (35,3%) dos casos registrados;

 

38 milhões é o número estimado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de pessoas vivendo com o HIV no mundo;

 

920 mil é o número estimado pelo Ministério da Saúde de pessoas vivendo com o HIV no Brasil.

 

Fontes: Sesap/RN, Organização Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde (MS)

 

Contaminação

 

Assim pega:

Sexo vaginal sem camisinha;

Sexo anal sem camisinha;

Sexo oral sem camisinha;

Uso de seringa por mais de uma pessoa;

Transfusão de sangue contaminado;

Da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação;

Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.

 

Assim não pega:

Sexo desde que se use corretamente a camisinha;

Masturbação a dois;

Beijo no rosto ou na boca;

Suor e lágrima;

Picada de inseto;

Aperto de mão ou abraço;

Sabonete/toalha/lençóis;

Talheres/copos;

Assento de ônibus;

Piscina;

Banheiro;

Doação de sangue;

Pelo ar.

 

Fonte: Ministério da Saúde

  

ENTREVISTA

A gente ainda vive a epidemia do HIV

 

Manoella Alves

Preceptora médica infectologista

 

De forma didática, o que é o HIV e o que é a Aids?

Quando alguém é infectado pelo HIV, cuja maneira mais comum de infecção é a partir da relação sexual desprotegida, o vírus entra no corpo e começa a matar as células de defesa. Isso pode se dar de uma maneira rápida ou devagar. Mas, aos poucos, ele vai matando essas células de defesa. Chega um momento que essas defesas estão tão baixas que a gente diz que a pessoa está com Aids. Quando alguém se infecta pelo vírus, naquele momento, muitas vezes, não se sente nada. Em alguns casos, há quadro de febre e moleza, mas passa despercebido. Dali a alguns anos, às vezes, é que o paciente vai adoecer realmente e receber o diagnóstico de HIV e o da Aids.

 

Por isso que a testagem é importante?

Sim. É por esse motivo que a gente faz uma campanha enorme para que as pessoas sempre se testem. Porque qualquer pessoa pode ter a infecção e não saber. Quanto antes a pessoa souber que está com a infecção, muito melhor. Porque pode se iniciar o tratamento gratuitamente e impedir que se chegue nesse estágio que a gente chama de Aids.

 

Receber um diagnóstico de HIV, ainda é um tabu na atualidade?

Com certeza. Apesar de todas as campanhas enfatizando que o HIV hoje é uma doença tratável, que as pessoas não devem morrer por causa dela, apesar de não curarmos mas fazermos controle, as pessoas ainda têm muito medo de se testar pelo medo do diagnóstico. E não é só a questão do “vou morrer de HIV”. Também tem a questão do preconceito envolvido nisso quando se pensa no que os outros vão pensar. Com certeza, isso afasta as pessoas da testagem. A rede primária de saúde faz testagem, mas as pessoas se sentem inibidas de fazerem a testagem no bairro onde moram. Tem toda uma dinâmica que a gente precisa, cada vez mais, pensar formas das pessoas se testarem e não terem medo do resultado. É um desafio.

 

No Rio Grande do Norte, como a senhora tem acompanhado o avanço da doença?

O Rio Grande do Norte, no geral, acompanha a dinâmica do país. Infelizmente, a gente ainda vive a epidemia do HIV. Por mais que busquemos, ao máximo, diminuir o número de pessoas que se infectam. Mas a gente só consegue isso tentando conscientizá-las do risco que elas correm se fizerem sexo desprotegido, tentando diagnosticar o máximo de pessoas que já tem o vírus. Na hora que eu identifico uma pessoa com o vírus, iniciamos o tratamento e quando ela está fazendo o tratamento contra o HIV adequado e regular, chega um momento que essa pessoa não transmite mais esse HIV por via sexual. Infelizmente, ainda não existe a cura, mas se a pessoa toma a medicação corretamente e ocorre o que a gente chama de carga viral indetectável, quando o medicamento está fazendo realmente efeito e o paciente tem uma estabilidade no uso da medicação por pelo menos seis meses, ocorre que o vírus fica indetectável. Isso significa que a pessoa não transmite mais o vírus, o que chamamos de intransmissível. Para quem não sabia disso, é sempre importante que quem tem HIV e se trata, converse isso com o médico e busque saber se está, de certa maneira, intransmissível. Isso é super importante.

 

Há muitos jovens sendo infectados no Rio Grande do Norte?

Infelizmente, no estado, assim como no país, a gente tem uma grande quantidade de jovens se infectando. Uma faixa etária entre 20 e 29 anos, na qual eu tenho feito muitos diagnósticos. O que é uma pena. A gente, hoje, além de todo o trabalho para que esse jovem se proteja no ato sexual, existe a PREP, que é a Profilaxia Pré-Exposição. Esse programa existe dentro do Sistema Único de Saúde (SUS).

 

Como funciona?

Existem alguns grupos que a gente de grupos vulneráveis, que são compostos por pessoas que têm uma maior chance de se infectar por causa do comportamento sexual. Esses grupos podem receber, gratuitamente, uma medicação que faz com que se reduza muito a chance de se infectar pelo HIV em uma relação sexual desprotegida, Estou falando de PREP para que as pessoas tenham curiosidade em relação a isso, para que elas busquem material informativo que está disponível no site do Ministério da Saúde. No Rio Grande do Norte existe laboratório de PREP no Hospital Giselda Trigueiro. Se alguém tem interesse em conhecer, quer saber mais, pode fazer o agendamento da consulta, tirar todas as dúvidas e verificar se pode ser encaixado no recebimento da PREP gratuita. Mas, é importante salientar que apesar de se fazer uso da PREP, de camisinha e de várias outras formas de impedir a infecção, que é o que a gente chama hoje de mandala da prevenção, a gente ainda tem um número expressivo de pessoas jovens que continuam se infectando. A gente não quer isso. Na hora que alguém se infecta, adquire uma doença que até hoje é crônica, que apesar de ter tratamento dele ser gratuito, traz ainda morbidade.

 

Os jovens perderam o medo de contrair o HIV ou faltam políticas de educação sexual que mostrem o risco dessa contaminação?

Talvez eu não consiga responder de todo o motivo. Na verdade, existem diversos estudos que buscam entender essas percepções de risco. Talvez, o fato de hoje termos um tratamento para o HIV, das pessoas não morrerem mais pela doença se assim elas desejarem, por ter a medicação gratuitamente, então esses são pontos que influenciam. Perde-se o medo da doença que não mata mais como matava antigamente. Mas existem vários outros comportamentos associados que envolvem bebidas, drogas que alteram as percepções de risco e na hora da relação sexual, fazem com que as pessoas se descuidem. Quanto à questão das campanhas de conscientização, falar sobre HIV e Aids, acho que esse é um assunto que nunca será debatido o bastante. Quanto mais se falar sobre infecções sexualmente transmissíveis, vai ser melhor. É um assunto que se pode falar todos os dias, todas as horas, não somente no mês de dezembro. Quando alguém tem outra IST, isso aumenta a chance de adquirir o HIV. Trabalhar todas as populações sobre os riscos de infecção, ampliar locais de testagem, facilitar esse acesso, nunca vai ser demais. A gente tem que trabalhar isso todos os dias. Quando falamos em ISTs, não falamos somente do HIV, tem todas as outras que acometem homens e mulheres. Essas infecções causam abortos, malformação congênita… O ideal é que todo mundo se teste, se trate e se previna para todas as infecções.

 

Temos também um aumento significativo de registros de HIV em grávidas. A que se deve isso?

O Rio Grande do Norte se comporta como o país, também, com uma grande quantidade de gestantes diagnosticadas. Existe, de certa maneira, um aumento. Mas, é importante ter em mente que se tenta, ao máximo, fazer com que 100% das gestantes sejam testadas para o HIV. Então, isso faz com que eu tenha uma grande quantidade de diagnósticos de mulheres feitos na gestação, pois a maioria dessas mulheres não eram testadas antes da gravidez.

 

O Boletim Epidemiológico do HIV/Aids da Sesap mostra elevação de casos entre homens heterossexuais de 60 anos e mais. Isso se deve ao fato dessas pessoas estarem usando mais sites de relacionamentos, estimulantes sexuais?

Provavelmente, sim. Na verdade, essa mudança já acontece há alguns anos. No início, quando a gente viu essa curva de diagnósticos positivos nessa faixa etária, a gente atribuiu a esses estimulantes. Mas a humanidade como um todo, o Brasil se encaixa nisso. As pessoas estão chegando às idades mais avançadas com muita saúde. A  gente considera uma pessoa com 60 anos idosa, mas tem que ser uma coisa que precisa mudar. As pessoas têm vitalidade e vida sexual ativa e isso, com certeza, contribui para que essas pessoas nessa faixa etária comecem a se infectar por ter vida sexual ativa. O importante é que a gente não somente aborde os jovens quanto à prevenção das infecções sexualmente transmissíveis, uma delas o HIV, mas que a gente aborde, também, todas as faixas etárias a partir da adolescência.

 

Os registros entre crianças também cresceram. Qual a forma mais comum de ocorrer a infecção pelo HIV nessa faixa etária?

Quando a gente fala de transmissão vertical, o momento em que ela mais ocorre é no parto. O que tem acontecido ao longo dos últimos anos, com os esquemas profiláticos efetivos e que são feitos, existe uma campanha enorme para que essa mulher no momento do parto seja testada, e vindo positiva se faça a profilaxia na mulher para se evitar a transmissão para a criança. Com isso, nós conseguimos reduzir praticamente a zero essa transmissão. O que tem acontecido são alguns diagnósticos pós-natais que podem acontecer, por exemplo, na amamentação. Se uma mulher é negativa no parto, mas ela se infecta no período que está amamentando, existe uma chance dela transmitir para o bebê pela amamentação. É super importante que se eduque, se fale para essas mulheres que em elas amamentando, elas precisam se continuar protegendo contra o HIV. Na verdade, elas precisam se proteger sempre, buscar todas as formas de evitar o contágio pelo HIV. Mas reforço que, enquanto ela estiver amamentando e se infectar, corre o risco de passar para o bebê. Essa é outra forma de infecção. Há, também, o abuso sexual, que também é uma das formas de infecção. Mas o binômio mãe-feto permite essa transmissão quando a mãe está infectada.

 

Como é feito o pré-natal de uma grávida soropositiva?

A gestante que é HIV positiva, a busca é pela indetecção da carga viral. É buscar o vírus no sangue e não encontrar. Isso a gente consegue dando a terapia antirretroviral, a medicação específica. Uma mulher que é HIV positiva e que deseja engravidar, com a terapia altamente potente ela indetecta a carga viral ela engravida e se consegue manejar a gestação, a criança com uma chance ínfima de infecção. A diferença que existe entre uma mulher soropositiva e uma não positiva durante o pré-natal é que na gestante HIV é preciso um acompanhamento rigoroso quanto à dosagem do vírus no sangue. O meu desejo é que em todos os trimestres gestacionais, ela esteja com a carga viral indetectável. Isso acontece quando as mulheres com HIV resolvem engravidar e aderem ao tratamento regular e conseguem ter uma gravidez muito tranquila. Quando, no pré-natal, se descobre o HIV se inicia a terapia antirretroviral na busca de indetecção rápida dessa carga viral. Quanto mais precoce a gente consegue fazer essa detecção e início do tratamento, menor a chance dessa mãe transmitir o vírus para o bebê. A gente busca chegar ao momento do parto com a carga viral indetectável.

Texto:  Ricardo Araújo / Ascom – ISD

Foto: Ricardo Araújo / Ascom – ISD

Assessoria de Comunicação
comunicacao@isd.org.br
(84) 99416-1880

Instituto Santos Dumont (ISD)

É uma Organização Social vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e engloba o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra e o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, ambos em Macaíba. A missão do ISD é promover educação para a vida, formando cidadãos por meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, além de contribuir para a transformação mais justa e humana da realidade social brasileira.

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O Boletim em referência foi elaborado pelo Programa Estadual de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), Aids e Hepatites Virais. Ele apresenta uma análise epidemiológica sobre os casos confirmados de Aids em adultos e crianças, de mortalidade pela doença, de infecção pelo vírus HIV, de grávidas infectadas e de crianças expostas ao vírus. Conforme exposto, entre 2010 e 2020, o Rio Grande do Norte apresentou 6.232 casos de Aids. Desses, 70 foram em menores de cinco anos de idade; 6.158 casos de infecção pelo HIV; 995 gestantes infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana. O número de óbitos pela doença, no período analisado, chegou a 1.365.

 

Em termos percentuais, somente a taxa de detecção do vírus em menores de cinco anos caiu no período: 43%. As demais aumentaram significativamente. A detecção do HIV cresceu 18,6% (de 14,0 para 16,6 casos por 100 mil habitantes). A ocorrência de gestantes infectadas pelo HIV aumentou 142% (de 1,2 para 2,9 casos por mil nascidos vivos). O número de crianças expostas ao vírus teve a evolução mais dramática: 877% de 2010 a 2020. A ocorrência de óbitos causados pela Aids cresceu, no mesmo intervalo, 15,7% em todo o Rio Grande do Norte.

 

“É uma doença de difícil controle. Depende do comportamento das pessoas. Há uma queda no uso de preservativos, principalmente entre os jovens. Em 2020, houve queda no número de testes e aumento na identificação de casos. Depende muito de cada um. Ações nas escolas, de forma educativa para os adolescentes, é muito importante. Quanto mais informação, melhor é a prevenção. Isso não tem sido realizado nas escolas públicas e privadas, por exemplo. O estado está preparado para esse aumento de demanda de casos, para atendimento de pacientes com HIV e Aids, com distribuição gratuita de medicamentos enviados pelo Ministério da Saúde. O ideal, porém, é conscientizar a população para a prevenção. Não é porque a Aids não mata mais como antes que as pessoas devem perder o medo de contrair a doença”, frisa Amanda Dantas, técnica do Programa Estadual de IST, Aids e Hepatites Virais da Sesap/RN.

 

Na década em questão, foram registrados 4.441 casos em homens (71,3%) e 1.791 casos em mulheres (28,7%). A Sesap verificou aumento na razão de sexos em 2020, com 3 casos em homens para cada 1 caso em mulheres. A maior concentração de ocorrência de HIV entre 2010 e 2020, foi observada nos indivíduos com idade de 30 a 39 anos (31,1%). A principal via de transmissão, no período analisado, foi a sexual, em 53% dos casos. Entre os homens, a categoria de exposição predominante foi a homossexual/bissexual com 27,5%. Entre o sexo feminino, a maior ocorrência é entre heterossexuais, com 55,6%. Nos homens, a faixa etária que apresentou maior variação foi a de 60 anos e mais (100%) e, nas mulheres, o maior crescimento foi observado na faixa etária de 30 a 39 anos.

 

A preceptora médica infectologista do ISD, Manoella Alves, faz um alerta em relação ao aumento de casos de infecção pelo HIV entre os mais jovens. “Infelizmente, no estado, assim como no país, a gente tem uma grande quantidade de jovens se infectando. Uma faixa etária entre 20 e 29 anos, na qual eu tenho feito muitos diagnósticos. O que é uma pena. Além de todo o trabalho para que esse jovem se proteja no ato sexual, existe a PREP, que é a Profilaxia Pré-Exposição. Esse programa existe dentro do Sistema Único de Saúde (SUS)”, ressalta.

 

Referência

O Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita), uma das unidades do ISD, é referência estadual para o Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimento de mulheres grávidas infectadas pelo vírus. De 2018 a 2020, o número de mulheres infectadas pelo HIV que realizam o pré-natal no Anita aumentou 45,45% – saindo de 11 para 16. De janeiro a setembro deste ano, 12 pacientes nessa condição tinham iniciado o tratamento multiprofissional, com equipe  composta por infectologista, ginecologista e obstetra, psicóloga, enfermeira, assistente social e farmacêutica bioquímica.

 

“Todas as gestantes que entram no Anita, em algum momento, irão fazer o teste rápido para HIV, sífilis e hepatites virais. O protocolo do Ministério da Saúde define que sejam realizados testes no primeiro trimestre de gestação, no início do pré-natal e outro no terceiro trimestre de gravidez. No momento do parto, a mãe é novamente testada para HIV e sífilis. Os dados do Boletim atual da Sesap apontam um reflexo do aumento do número de casos nesse público. A triagem durante a gestação é muito eficiente”, aponta Carla Glenda Souza  da Silva, preceptora multiprofissional psicóloga do ISD. Ela ressalta, porém, que além dos casos de infecção pelo HIV, há uma prevalência de ocorrência de sífilis entre as mulheres grávidas que pode resultar em sequelas irreversíveis ao bebê, como doenças  neurológicas graves, caso não tratada a tempo e de forma hábil.

 

Entre as mulheres grávidas soropositivas acompanhadas pelos profissionais do Anita, há uma adolescente de 15 anos de idade, corroborando as estatísticas da Sesap/RN. “Ela foi infectada aos 13 anos, na primeira relação sexual que teve, com o primeiro namorado. Há um perfil das mulheres que atendemos hoje: possuem baixa escolaridade, não possuem acesso à informação adequada, vivem em situação de vulnerabilidade econômica, são submissas aos companheiros por questões diversas. Muitos não aceitam o uso da camisinha. É difícil empoderar mulheres nessas condições, pois elas se sentem acuadas”, declara Carla Glenda Souza da Silva.

 

Para acompanhar mulheres nessas circunstâncias, o Setor de Serviço Social do ISD desenvolve um trabalho de intervenção que envolve a articulação com a rede intersetorial, formada por diversas áreas como saúde, segurança, educação, trabalho, entre outras. Ele visa garantir o cumprimento das consultas, a realização de exames, o deslocamento das pacientes em carros das respectivas prefeituras municipais às quais pertencem seus endereços e o recebimento ininterrupto da medicação antirretroviral. O tema da campanha deste ano para o Dia Mundial da Aids, elaborada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS) é: “Acabe com as desigualdades. Acabe com a AIDS. Acabe com as pandemias”. Esta data, segundo a OPAS/OMS, constitui uma oportunidade para apoiar as pessoas envolvidas na luta contra o HIV e melhorar a compreensão do vírus como um problema de saúde pública global.

 

“É extremamente importante a realização do acompanhamento das pessoas vivendo com HIV/Aids por equipes multiprofissionais, visto que a atenção demanda olhares diversos e complementares. O cuidado a estas pessoas requer uma atuação profissional especializada que possa promover a melhoria da qualidade de vida e o alcance dos direitos que lhe são assegurados. As articulações com os demais serviços que integram as redes municipal e estadual de atendimento buscam atender as demandas que ultrapassam o tratamento médico e medicamentoso, sobretudo, no que se refere ao preconceito e a dificuldade de acesso aos serviços básicos como educação, trabalho, cultura, lazer, entre outros”, afirma a preceptora multiprofissional assistente social do ISD, Alexandra Lima.

 

DADOS

 

Aids em Crianças

110 casos em crianças menores de 13 anos de idade (entre 2010 e 2020), das quais 70 foram diagnosticadas antes dos cinco anos de idade;

 

Binômio mãe-bebê

142% de aumento na taxa de detecção de HIV em gestantes;

 

117% no número de casos de gestantes infectadas pelo HIV;

 

77,3% das contaminações nessa faixa etária ocorrem pela transmissão vertical (mãe-bebê durante o parto);

 

Óbitos por Aids no RN

1.365 óbitos por Aids no RN na década analisada (977 homens e 388 mulheres) , com predominância em pessoas de 40 a 49 anos (28,7%);

 

15,7% de aumento de óbitos no período analisado;

 

Perfil das pessoas infectadas

70% dos casos de infecção registrados no RN até dezembro de 2020 ocorreram entre homens; com concentração na faixa etária de 20 a 29 anos (35,3%) dos casos registrados;

 

38 milhões é o número estimado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de pessoas vivendo com o HIV no mundo;

 

920 mil é o número estimado pelo Ministério da Saúde de pessoas vivendo com o HIV no Brasil.

 

Fontes: Sesap/RN, Organização Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde (MS)

 

Contaminação

 

Assim pega:

Sexo vaginal sem camisinha;

Sexo anal sem camisinha;

Sexo oral sem camisinha;

Uso de seringa por mais de uma pessoa;

Transfusão de sangue contaminado;

Da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação;

Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.

 

Assim não pega:

Sexo desde que se use corretamente a camisinha;

Masturbação a dois;

Beijo no rosto ou na boca;

Suor e lágrima;

Picada de inseto;

Aperto de mão ou abraço;

Sabonete/toalha/lençóis;

Talheres/copos;

Assento de ônibus;

Piscina;

Banheiro;

Doação de sangue;

Pelo ar.

 

Fonte: Ministério da Saúde

  

ENTREVISTA

A gente ainda vive a epidemia do HIV

 

Manoella Alves

Preceptora médica infectologista

 

De forma didática, o que é o HIV e o que é a Aids?

Quando alguém é infectado pelo HIV, cuja maneira mais comum de infecção é a partir da relação sexual desprotegida, o vírus entra no corpo e começa a matar as células de defesa. Isso pode se dar de uma maneira rápida ou devagar. Mas, aos poucos, ele vai matando essas células de defesa. Chega um momento que essas defesas estão tão baixas que a gente diz que a pessoa está com Aids. Quando alguém se infecta pelo vírus, naquele momento, muitas vezes, não se sente nada. Em alguns casos, há quadro de febre e moleza, mas passa despercebido. Dali a alguns anos, às vezes, é que o paciente vai adoecer realmente e receber o diagnóstico de HIV e o da Aids.

 

Por isso que a testagem é importante?

Sim. É por esse motivo que a gente faz uma campanha enorme para que as pessoas sempre se testem. Porque qualquer pessoa pode ter a infecção e não saber. Quanto antes a pessoa souber que está com a infecção, muito melhor. Porque pode se iniciar o tratamento gratuitamente e impedir que se chegue nesse estágio que a gente chama de Aids.

 

Receber um diagnóstico de HIV, ainda é um tabu na atualidade?

Com certeza. Apesar de todas as campanhas enfatizando que o HIV hoje é uma doença tratável, que as pessoas não devem morrer por causa dela, apesar de não curarmos mas fazermos controle, as pessoas ainda têm muito medo de se testar pelo medo do diagnóstico. E não é só a questão do “vou morrer de HIV”. Também tem a questão do preconceito envolvido nisso quando se pensa no que os outros vão pensar. Com certeza, isso afasta as pessoas da testagem. A rede primária de saúde faz testagem, mas as pessoas se sentem inibidas de fazerem a testagem no bairro onde moram. Tem toda uma dinâmica que a gente precisa, cada vez mais, pensar formas das pessoas se testarem e não terem medo do resultado. É um desafio.

 

No Rio Grande do Norte, como a senhora tem acompanhado o avanço da doença?

O Rio Grande do Norte, no geral, acompanha a dinâmica do país. Infelizmente, a gente ainda vive a epidemia do HIV. Por mais que busquemos, ao máximo, diminuir o número de pessoas que se infectam. Mas a gente só consegue isso tentando conscientizá-las do risco que elas correm se fizerem sexo desprotegido, tentando diagnosticar o máximo de pessoas que já tem o vírus. Na hora que eu identifico uma pessoa com o vírus, iniciamos o tratamento e quando ela está fazendo o tratamento contra o HIV adequado e regular, chega um momento que essa pessoa não transmite mais esse HIV por via sexual. Infelizmente, ainda não existe a cura, mas se a pessoa toma a medicação corretamente e ocorre o que a gente chama de carga viral indetectável, quando o medicamento está fazendo realmente efeito e o paciente tem uma estabilidade no uso da medicação por pelo menos seis meses, ocorre que o vírus fica indetectável. Isso significa que a pessoa não transmite mais o vírus, o que chamamos de intransmissível. Para quem não sabia disso, é sempre importante que quem tem HIV e se trata, converse isso com o médico e busque saber se está, de certa maneira, intransmissível. Isso é super importante.

 

Há muitos jovens sendo infectados no Rio Grande do Norte?

Infelizmente, no estado, assim como no país, a gente tem uma grande quantidade de jovens se infectando. Uma faixa etária entre 20 e 29 anos, na qual eu tenho feito muitos diagnósticos. O que é uma pena. A gente, hoje, além de todo o trabalho para que esse jovem se proteja no ato sexual, existe a PREP, que é a Profilaxia Pré-Exposição. Esse programa existe dentro do Sistema Único de Saúde (SUS).

 

Como funciona?

Existem alguns grupos que a gente de grupos vulneráveis, que são compostos por pessoas que têm uma maior chance de se infectar por causa do comportamento sexual. Esses grupos podem receber, gratuitamente, uma medicação que faz com que se reduza muito a chance de se infectar pelo HIV em uma relação sexual desprotegida, Estou falando de PREP para que as pessoas tenham curiosidade em relação a isso, para que elas busquem material informativo que está disponível no site do Ministério da Saúde. No Rio Grande do Norte existe laboratório de PREP no Hospital Giselda Trigueiro. Se alguém tem interesse em conhecer, quer saber mais, pode fazer o agendamento da consulta, tirar todas as dúvidas e verificar se pode ser encaixado no recebimento da PREP gratuita. Mas, é importante salientar que apesar de se fazer uso da PREP, de camisinha e de várias outras formas de impedir a infecção, que é o que a gente chama hoje de mandala da prevenção, a gente ainda tem um número expressivo de pessoas jovens que continuam se infectando. A gente não quer isso. Na hora que alguém se infecta, adquire uma doença que até hoje é crônica, que apesar de ter tratamento dele ser gratuito, traz ainda morbidade.

 

Os jovens perderam o medo de contrair o HIV ou faltam políticas de educação sexual que mostrem o risco dessa contaminação?

Talvez eu não consiga responder de todo o motivo. Na verdade, existem diversos estudos que buscam entender essas percepções de risco. Talvez, o fato de hoje termos um tratamento para o HIV, das pessoas não morrerem mais pela doença se assim elas desejarem, por ter a medicação gratuitamente, então esses são pontos que influenciam. Perde-se o medo da doença que não mata mais como matava antigamente. Mas existem vários outros comportamentos associados que envolvem bebidas, drogas que alteram as percepções de risco e na hora da relação sexual, fazem com que as pessoas se descuidem. Quanto à questão das campanhas de conscientização, falar sobre HIV e Aids, acho que esse é um assunto que nunca será debatido o bastante. Quanto mais se falar sobre infecções sexualmente transmissíveis, vai ser melhor. É um assunto que se pode falar todos os dias, todas as horas, não somente no mês de dezembro. Quando alguém tem outra IST, isso aumenta a chance de adquirir o HIV. Trabalhar todas as populações sobre os riscos de infecção, ampliar locais de testagem, facilitar esse acesso, nunca vai ser demais. A gente tem que trabalhar isso todos os dias. Quando falamos em ISTs, não falamos somente do HIV, tem todas as outras que acometem homens e mulheres. Essas infecções causam abortos, malformação congênita… O ideal é que todo mundo se teste, se trate e se previna para todas as infecções.

 

Temos também um aumento significativo de registros de HIV em grávidas. A que se deve isso?

O Rio Grande do Norte se comporta como o país, também, com uma grande quantidade de gestantes diagnosticadas. Existe, de certa maneira, um aumento. Mas, é importante ter em mente que se tenta, ao máximo, fazer com que 100% das gestantes sejam testadas para o HIV. Então, isso faz com que eu tenha uma grande quantidade de diagnósticos de mulheres feitos na gestação, pois a maioria dessas mulheres não eram testadas antes da gravidez.

 

O Boletim Epidemiológico do HIV/Aids da Sesap mostra elevação de casos entre homens heterossexuais de 60 anos e mais. Isso se deve ao fato dessas pessoas estarem usando mais sites de relacionamentos, estimulantes sexuais?

Provavelmente, sim. Na verdade, essa mudança já acontece há alguns anos. No início, quando a gente viu essa curva de diagnósticos positivos nessa faixa etária, a gente atribuiu a esses estimulantes. Mas a humanidade como um todo, o Brasil se encaixa nisso. As pessoas estão chegando às idades mais avançadas com muita saúde. A  gente considera uma pessoa com 60 anos idosa, mas tem que ser uma coisa que precisa mudar. As pessoas têm vitalidade e vida sexual ativa e isso, com certeza, contribui para que essas pessoas nessa faixa etária comecem a se infectar por ter vida sexual ativa. O importante é que a gente não somente aborde os jovens quanto à prevenção das infecções sexualmente transmissíveis, uma delas o HIV, mas que a gente aborde, também, todas as faixas etárias a partir da adolescência.

 

Os registros entre crianças também cresceram. Qual a forma mais comum de ocorrer a infecção pelo HIV nessa faixa etária?

Quando a gente fala de transmissão vertical, o momento em que ela mais ocorre é no parto. O que tem acontecido ao longo dos últimos anos, com os esquemas profiláticos efetivos e que são feitos, existe uma campanha enorme para que essa mulher no momento do parto seja testada, e vindo positiva se faça a profilaxia na mulher para se evitar a transmissão para a criança. Com isso, nós conseguimos reduzir praticamente a zero essa transmissão. O que tem acontecido são alguns diagnósticos pós-natais que podem acontecer, por exemplo, na amamentação. Se uma mulher é negativa no parto, mas ela se infecta no período que está amamentando, existe uma chance dela transmitir para o bebê pela amamentação. É super importante que se eduque, se fale para essas mulheres que em elas amamentando, elas precisam se continuar protegendo contra o HIV. Na verdade, elas precisam se proteger sempre, buscar todas as formas de evitar o contágio pelo HIV. Mas reforço que, enquanto ela estiver amamentando e se infectar, corre o risco de passar para o bebê. Essa é outra forma de infecção. Há, também, o abuso sexual, que também é uma das formas de infecção. Mas o binômio mãe-feto permite essa transmissão quando a mãe está infectada.

 

Como é feito o pré-natal de uma grávida soropositiva?

A gestante que é HIV positiva, a busca é pela indetecção da carga viral. É buscar o vírus no sangue e não encontrar. Isso a gente consegue dando a terapia antirretroviral, a medicação específica. Uma mulher que é HIV positiva e que deseja engravidar, com a terapia altamente potente ela indetecta a carga viral ela engravida e se consegue manejar a gestação, a criança com uma chance ínfima de infecção. A diferença que existe entre uma mulher soropositiva e uma não positiva durante o pré-natal é que na gestante HIV é preciso um acompanhamento rigoroso quanto à dosagem do vírus no sangue. O meu desejo é que em todos os trimestres gestacionais, ela esteja com a carga viral indetectável. Isso acontece quando as mulheres com HIV resolvem engravidar e aderem ao tratamento regular e conseguem ter uma gravidez muito tranquila. Quando, no pré-natal, se descobre o HIV se inicia a terapia antirretroviral na busca de indetecção rápida dessa carga viral. Quanto mais precoce a gente consegue fazer essa detecção e início do tratamento, menor a chance dessa mãe transmitir o vírus para o bebê. A gente busca chegar ao momento do parto com a carga viral indetectável.

Texto:  Ricardo Araújo / Ascom – ISD

Foto: Ricardo Araújo / Ascom – ISD

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