Atender o paciente, entrevistá-lo e, quando necessário, encaminhá-lo para outras especialidades – sob supervisão atenta da preceptora ou do preceptor. Essas e outras atividades fazem parte da rotina de atendimento a mulheres gestantes, bebês, crianças e adultos em que embarcam alunos de graduação em Estágio Curricular Obrigatório no Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita), do Instituto Santos Dumont (ISD), em Macaíba (RN).

O Centro, que já recebia estudantes antes da pandemia, assumiu neste ano o posto de  principal campo de prática em saúde materno-infantil e da pessoa com deficiência para alunos de Medicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 

Somente nesta semana, 18 alunos procedentes da Escola Multicampi de Ciências Médicas e do Campus Central da Universidade desembarcaram nas clínicas. Desde janeiro foram 186, da UFRN e da Universidade do Estado do RN, a Uern, um batalhão que já corresponde a mais da metade do registrado ao longo de todo o ano passado, quando 244 estagiaram no Centro. 

O número ajuda a compor o “Uso da capacidade instalada para estágios curriculares obrigatórios para alunos de graduação”, um dos 13 indicadores do Instituto relativos a 2020 que serão analisados pela Comissão de Avaliação e Acompanhamento do Contrato de Gestão do Ministério da Educação (MEC) a partir deste mês. 

O Relatório Anual 2020 do Instituto com todos os indicadores será apresentado nesta segunda-feira (26) à Comissão, durante videoconferência, pela diretoria do ISD. Clique aqui para acessar o relatório completo.

Os dados estão no centro da série de reportagens #PorDentrodoISD, produzida pela Assessoria de Comunicação do Instituto. 

A série detalha os principais resultados alcançados nas áreas de ensino, produção científica e capacitação no período. Esta é a segunda reportagem. A primeira, publicada em 13 de abril, mostra em quanto tempo se formam e para onde vão os alunos diplomados no Mestrado em Neuroengenharia do Instituto. 

Clique AQUI para ler.

Meta superada, em meio a desafios

No caso do “Uso da capacidade instalada para estágios curriculares obrigatórios para alunos de graduação”, o Relatório mostra que a meta estabelecida para o ano 2020 foi superada, mas que a decisão da UFRN de suspender temporariamente o calendário acadêmico em razão da pandemia afetou o indicador – uma vez que os alunos da Universidade são maioria dos que fazem estágio no Instituto e apenas os cursos de fisioterapia e medicina do campus central retornaram às práticas presenciais no período. 

O retorno foi decidido pelos próprios departamentos dos cursos da universidade, seguindo os protocolos necessários para que ocorresse de maneira segura e dentro das normas do Ministério da Saúde, com restrição do número de graduandos por cenário de prática. 

“Nós tínhamos uma meta de 90% para o uso da capacidade instalada para estágios curriculares obrigatórios para alunos de graduação em 2020 e realizamos 90,7%, gerando um grau de alcance de 100,8%”, disse a gerente do Anita, Lilian Lisboa, em reunião realizada em fevereiro deste ano para apresentação dos resultados ao Conselho de Administração do ISD, o órgão de deliberação superior do Instituto. 

O Estágio na prática

A neuropsicóloga e coordenadora das atividades de ensino do ISD, Samantha Maranhão, explica que o Anita/ISD, que sempre foi um Centro “porta aberta” para estudantes da área de saúde colocarem a mão na massa, após um ano de pandemia se consolidou como o principal campo de prática para alunos de graduação da UFRN e recebe ainda estudantes da UERN. Alunos de Medicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Psicologia chegam semanalmente ao Anita, procedentes de diferentes regiões do Rio Grande do Norte. 

Segundo ela, a pandemia trouxe escassez de campos de prática para alunos na área da saúde e o Anita vem suprindo essa demanda. 

“Na pandemia, o único cenário prático para estágio que abriu foi o Anita e nos tornamos o principal campo formativo para as áreas que tem a saúde materno-infantil e a reabilitação como foco. Há departamentos que batem na nossa porta pedindo para receber os alunos e a gente vem atendendo essas demandas”, diz ela. 

Em 2020, mesmo diante da pandemia, que trouxe suspensão das atividades no primeiro semestre do ano, o Instituto conseguiu superar a meta pactuada.

O ISD recebeu alunos de seis cursos de graduação ao longo do ano, sendo cinco da UFRN e um da UERN. De acordo com o Relatório Anual do ISD, documento que mostra os resultados obtidos pelo Instituto a cada ano, foram mais de 9 mil horas de prática cumpridas por 244 graduandos preceptorados por médicos e equipe multiprofissional do Instituto. 

A duração do estágio varia de 8 a 160 horas e é definida pelos departamentos de cada curso de acordo com seus objetivos de ensino-aprendizagem. “Recebemos alunos de cursos da saúde de acordo com nossas principais áreas de atuação e preceptoria. O tempo de permanência varia de acordo com o objetivo traçado, não existe uma regra exata para definir isso”, explica Samantha Maranhão.

“Estamos recuperando o ritmo de anos anteriores à pandemia”  

Em 2021, o número de alunos que passaram pelo estágio no Anita já corresponde a mais da metade da quantidade registrada no ano passado. Até abril de 2021, 186 alunos estagiaram no Centro. 

Para a coordenadora das atividades de ensino, que organiza as rotinas e recebe esses estudantes, a tendência é recuperar o ritmo que o Instituto registrava nesse número antes da pandemia. 

“É como se estivéssemos recuperando o ritmo dos anos anteriores à pandemia, mesmo sem a pandemia ter acabado. Estamos aprendendo na prática novas formas de desenvolver as ações de ensino seguindo os protocolos do Ministério da Saúde e de cada departamento, inserindo inclusive o teleatendimento como parte da rotina e criando um sistema de ensino-aprendizagem híbrido”, explica Samantha. 

Segundo o Relatório Anual de 2019, o Instituto recebeu, naquele ano, 381 alunos para realização de estágio obrigatório. 

Um dos exemplos dessa reconstituição das formas de trabalhar, ensinar e aprender é no curso de Psicologia da UFRN, campus Santa Cruz (Facisa), em que os alunos não podem se expor ao realizar estágios presenciais, de acordo com as normas do departamento. Nesse sentido, a equipe multiprofissional do Anita/ISD tem feito articulações para atender a essa demanda e receber os alunos para estágio remoto. 

Saúde Materno-Infantil 

Para alunos de medicina, a rotina continua sendo presencial.

Na última segunda-feira, o Instituto recebeu 18 alunos da Escola Multicampi de Ciências Médicas e do Campus Central da UFRN, e deve receber outros 19 na próxima segunda-feira (26). 

Pré-natal de alto risco, infectologia na gravidez, medicina fetal e saúde da criança e da mulher são as áreas principais pelas quais os graduandos do curso passeiam durante o estágio no Anita. 

Eles são acompanhados diariamente por preceptores médicos e atendem os usuários sob supervisão, discutem os melhores caminhos que podem ser seguidos e analisam os casos posteriormente. 

Para Thiago Bezerra, um dos alunos de Medicina que compõem o grupo desta semana, o ISD oferece um campo de prática acolhedor e seguro, fatores essenciais para as atividades diante de uma pandemia.

 “A gente percebe desde o momento que a gente chega um diferencial na forma que somos acolhidos, sem falar que a prática nos proporciona uma preceptoria muito rica, conseguimos atender pacientes e depois discutir caso a caso. É um ambiente muito proveitoso, mesmo durante pouco tempo, já que ficarei por aqui apenas uma semana”, conta o estudante. 

Segundo a Neuropsicóloga e preceptora do Instituto, Samantha Maranhão, no Anita/ISD os alunos conseguem entender o raciocínio clínico por completo. 

“Eles estão no ambulatório com médico, aprendendo o fazer médico, mas também estão em contato com fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, pediatras e entendem o motivo pelo qual o infectologista, por exemplo, encaminha o paciente para outras especialidades. O objetivo é justamente esse, apresentar aos alunos cenários de atuação reais para eles terem uma amostra do que vem pela frente quando se formarem. Então, existe o foco em saúde materno-infantil, mas eles também passeiam pela reabilitação, o que caracteriza a atuação interdisciplinar do Centro”, disse Samantha. 

Reabilitação 

No que diz respeito à Reabilitação física, auditiva e intelectual, foco dos alunos de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Psicologia, os estudantes têm a chance de colocar em prática os conhecimentos adquiridos na graduação também participando de atendimentos supervisionados por preceptores e chegam a realizar as sessões de reabilitação com os usuários. 

São exercícios, técnicas, dicas de como realizar movimentos em casa, por exemplo, que fazem parte do dia a dia de atendimentos deles em clínicas como a de Lesão Medular e Reabilitação Auditiva, que fazem parte do Centro Especializado em Reabilitação Física, Auditiva e Intelectual (CER III) do Anita. 

Uma das atividades voltada à discussão e melhoramento da prática no atendimento a pessoas com deficiência feita com os graduandos é uma simulação, que acontece semanalmente às quintas-feiras, ministrada por Samantha. 

Nesta simulação, um dos alunos assume o papel de Dona Lúcia, uma mulher de 39 anos vítima de violência doméstica que, devido às agressões do ex-marido e pai da primeira filha, adquiriu deficiências motora e auditiva. Agora, separada e com um novo companheiro, ela sonha em ter um segundo filho e busca orientações médicas. 

De acordo com Samantha, a simulação foi pensada para suprir a necessidade de prática voltada ao cuidado à saúde da pessoa com deficiência na formação médica. A linguagem adequada foi utilizada com dona Lúcia? O profissional fez contato visual com ela no mesmo nível em que ela estava na cadeira de rodas? Perguntou sobre a melhor maneira de examiná-la? Deu atenção às deficiências dela? Abordou a questão do planejamento familiar? Essas são algumas análises feitas a partir da simulação do atendimento, em que outros alunos interpretam o médico que a atende ou fazem observações para posterior discussão. 

Indicadores e resultados

O Instituto Santos Dumont é uma Organização Social sem fins lucrativos financiada pelo Ministério da Educação e semestralmente apresenta ao Ministério relatório de resultados relacionados a 13 indicadores de desempenho envolvendo áreas como educação, produção científica e gestão com metas previstas no contrato com o MEC.

A Comissão de Acompanhamento e Avaliação do Contrato de Gestão do Ministério da Educação que vai analisar o documento reúne especialistas ligados a universidades e outros órgãos do Governo Federal qualificados na área de atuação das Organizações Sociais e tem, a partir da apresentação do Relatório Anual do ISD, cinco dias para avaliar e produzir o relatório de acompanhamento, em devolutiva aos resultados apresentados pelo Instituto. 

As expectativas para a avaliação anual do Instituto são positivas, segundo o diretor-administrativo do ISD, Jovan Gadioli. “Nós conseguimos, apesar da pandemia, ter êxito na maioria dos indicadores de desempenho, então a expectativa é positiva pois conseguimos obter bons resultados mesmo diante do cenário de pandemia. No recorte semestral existia pouca tendência de cumprimento de boa parte das metas e no segundo semestre conseguimos reverter esse cenário de forma bem sucedida”, avalia. 

A Comissão de Acompanhamento e Avaliação do Contrato de Gestão do Ministério da Educação é composta por Ângela Maria Santana Carvalho, presidente da comissão e especialista em tecnologia e inovação, Fábio César Braga, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Felipe Von Glehn, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Lúcia Christina Iochida, da Secretaria de Educação Superior do MEC, Renato Evangelista de Araújo, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Sylvia Helena Figueiredo, representante do Ministério da Economia.