Historicamente, as pessoas com epilepsia têm sido alvo de atitudes preconceituosas e colocadas à margem do convívio social, principalmente aquelas que desenvolvem a forma farmacorresistente, ou seja, que não é possível controlar com duas ou mais medicações. Entretanto, nos primeiros anos do Século XX, uma dieta foi desenvolvida pelo médico americano Russell Wilder como uma alternativa para o controle das crises. O modelo da dieta, chamada de cetogênica por limitar a ingestão de carboidrato e a consequente circulação de glicose no sangue, se tornou uma forte aliada no tratamento da epilepsia farmacorresistente.
No Rio Grande do Norte, o Instituto Santos Dumont (ISD) desenvolveu o primeiro serviço ambulatorial voltado ao controle das crises epiléticas a partir da prescrição, por um médico neurologista ou neurocirurgião, do uso da dieta cetogênica. A epilepsia, de acordo com o Ministério da Saúde, “é uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos e se expressa por crises epilépticas repetidas”.
A doença pode ser causada por uma lesão no cérebro, decorrente de uma forte pancada na cabeça, uma infecção (meningite, por exemplo), neurocisticercose (“ovos de solitária” no cérebro), abuso de bebidas alcoólicas, de drogas, ou, às vezes, por algo que ocorreu antes ou durante o parto. Muitas vezes não é possível conhecer as causas que deram origem à epilepsia.
Conforme detalhado pela preceptora multiprofissional nutricionista do ISD e especialista em dieta cetogênica, Luciana Câmara, esse tipo de dieta é “rico em gordura, pobre em carboidrato e adequado em proteínas (conforme peso corporal e idade do paciente)”. Em uma dieta tida como convencional, o indivíduo costuma ingerir de 45% a 65% de carboidrato, de 10% a 35% de proteína e 20% a 35% de gordura. Na cetogênica, a ingestão de carboidrato chega a ser muito baixa, pois os alimentos com essa biomolécula causam efeito energético e excitatório, o que faz aumentar o número de crises epiléticas.
“Os itens mais comuns na dieta cetogênica, são: creme de leite com 35% de gordura, maionese, ovo, azeite, óleo, carne, peixe e frango. As fontes de carboidratos mais usadas são: frutas e verduras. A farinha branca não entra na dieta. Todos os alimentos como arroz, macarrão não entram. Em alguns casos, o feijão é permitido”, lista Luciana Câmara. Para ter acesso à dieta cetogênica, o paciente precisa ter o diagnóstico de epilepsia farmacorresistente. Além disso, precisa ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar, pois a adoção dessa modalidade de alimentação requer atenção especial.
Toda a comida ingerida ao longo do dia pelo paciente precisa ser pesada em balança de alimentos, pois a ingestão indiscriminada dos itens que compõem a dieta cetogênica pode causar outros problemas, como: aumento dos triglicerídeos, do colesterol e ocorrência de cálculos renais, por exemplo. Além disso, a nutricionista Luciana Câmara faz um alerta:
“Não são todas as pessoas que podem fazer a dieta cetogênica, porque existem contra-indicações à dieta. Se a criança apresentar baixo peso, problema renal ou cardíaco, por exemplo, não pode fazer uso da dieta caso essas condições não sejam revertidas. O importante é que cada paciente seja muito bem avaliado pela equipe médica. No início, os pacientes que fazem uso da dieta cetogênica podem apresentar sinais de letargia, que é lentidão, sonolência. Mas isso ocorre somente na fase de adaptação à nova alimentação. Na prática, porém, a ocorrência desse efeito é baixa”.
Luciana Câmara enfatiza que o nutricionista não pode fazer a indicação da dieta cetogênica: ela deve partir de um neurologista ou neurocirurgião. A dieta pode ser prescrita para todas as faixas etárias, mas os melhores resultados são notados nas crianças em decorrência da neuroplasticidade, que é a capacidade adaptativa do nosso cérebro, processo que facilita a aprendizagem de novos comportamentos e reprogramação de informações, e que são muito evidentes na primeira infância. Em paralelo à adoção da dieta cetogênica, o paciente pode realizar a reabilitação com equipe multiprofissional. “Uma intervenção não anula a outra. Nós temos pacientes que já fizeram cirurgia, fazem dieta cetogênica e estão em reabilitação”, exemplifica Luciana Câmara.
Benefícios
A dieta cetogênica pode contribuir para a diminuição e intensidade das crises epilépticas, além de melhorar o funcionamento intestinal, em alguns casos, entre outras atividades fisiológicas. “Os benefícios são muitos. Há redução do número e intensidade das crises epilépticas, melhora cognitiva e, no caso das crianças, elas crescem de forma adequada em estatura. Mas é uma dieta que precisa ser bastante controlada, pesada”, frisa Luciana Câmara.
Os pacientes com diagnóstico de epilepsia farmacorresistente podem ser tratados no Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita), unidade do ISD em Macaíba, a partir do encaminhamento de um médico da Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima da suas casas. Caso não tenha o diagnóstico, precisa procurar para que tenha o diagnóstico formalizado e, a partir dele, o encaminhamento ao tratamento. Ao chegar ao ISD, a pessoa passará por uma avaliação multiprofissional com direcionamento à avaliação médica que definirá o melhor curso terapêutico a ser adotado para cada caso.
Como proceder durante as crises epilépticas
– Coloque a pessoa deitada de lado, em lugar confortável, retirando de perto objetos com que ela possa se machucar, como pulseiras, relógios, óculos;
– Levante o queixo para facilitar a passagem de ar;
– Afrouxe as roupas;
– Caso a pessoa esteja babando, mantenha-a deitada com a cabeça voltada para o lado, evitando que ela se sufoque com a própria saliva;
– Quando a crise passar, deixe a pessoa descansar;
– Verifique se existe pulseira, medalha ou outra identificação médica de emergência que possa sugerir a causa da convulsão;
– Nunca segure a pessoa (deixe-a debater-se);
– Não dê tapas;
– Não jogue água sobre ela.
Fonte: Ministério da Saúde
Purple Day 2022
No próximo dia 26, o mundo se vestirá de roxo para chamar a atenção para o Purple Day® (Dia Roxo), que é um esforço internacional dedicado à conscientização das pessoas a respeito da epilepsia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), “a epilepsia é uma das doenças neurológicas mais comuns: afeta quase 50 milhões de pessoas em todo o mundo. É uma condição caracterizada por atividade elétrica do cérebro anormal, que causa convulsões ou comportamento incomum, sensações e, às vezes, perda de consciência. Afeta pessoas de todas as idades, com picos entre crianças e pessoas com mais de 60 anos. Tem consequências neurológicas, cognitivas, psicológicas e sociais”.
Programação
Purple Day Brasil 2022
Dia: 26/03
Horário: 09h às 12h
Evento virtual
Neste ano, o “Purple Day® Brasil 2022 – Com você todos os dias” será online e 100% gratuito. Serão reunidas grandes personalidades, médicos especialistas, profissionais de saúde, como o neurocirurgião e preceptor médico do ISD, Hougelle Simplício, entre outros.
Inscrições: www.purpleday.apoieepilepsia.
Texto: Ricardo Araújo / Ascom – ISD
Foto: Ricardo Araújo / Ascom – ISD
Assessoria de Comunicação
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(84) 99416-1880
Instituto Santos Dumont (ISD)
É uma Organização Social vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e engloba o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra e o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, ambos em Macaíba. A missão do ISD é promover educação para a vida, formando cidadãos por meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, além de contribuir para a transformação mais justa e humana da realidade social brasileira.