Ampliar a representatividade negra, feminina e de periferia, além de estabelecer ações de combate ao racismo estrutural no dia-a-dia, são caminhos apontados pela socióloga e doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Divaneide Basílio, para a construção de uma sociedade sem preconceitos. Esses temas foram abordados nesta quarta-feira (07/07) durante a aula da disciplina do curso de pós-graduação ‘Educação para a Cidadania Global’, do Instituto Santos Dumont (ISD).
A aula teve como temática central a discussão de questões relacionadas ao gênero, raça, classe e enfrentamento ao racismo. O encontro foi mediado por Lilian Lisboa, preceptora e gerente do Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi. Participaram estudantes da Residência Multiprofissional no Cuidado à Saúde da Pessoa com Deficiência e do Mestrado em Neuroengenharia do ISD.
Para Divaneide Basílio, as políticas públicas precisam ter um olhar voltado para a população negra. “As políticas públicas em saúde e educação precisam ter um olhar para a pessoa negra. Na empregabilidade, é preciso olhar para as pessoas que têm menos oportunidades por causa da cor de sua pele. Na segurança pública, é preciso pensar em por quê que a juventude negra é exterminada e pensar principalmente em caminhos para mudar essa realidade”, argumentou a socióloga Divaneide Basílio.
Além disso, ela ressaltou que a existência da mulher, da pessoa negra e das classes menos favorecidas economicamente precisa ser respeitada. “A questão central é o direito de existir e de ser respeitada. Existe um preconceito enraizado e que às vezes é tido como comum. É dizer “ela é bonitinha mas tem o cabelo ruim”, por exemplo, uma das milhares de pequenas formas em que o preconceito se manifesta”, afirmou Divaneide Basílio, que atualmente é vereadora em Natal.
Desigualdades
Nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), temática central da disciplina Educação para a Cidadania Global, a construção de uma sociedade antirracista está incluída na meta de Número 10, que visa promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra situação. Além disso, a meta tem o objetivo de garantir a igualdade de oportunidades e reduzir as desigualdades, em particular por meio da eliminação de políticas e práticas discriminatórias.
“O Brasil é um lugar perigoso para ser negro e o Rio Grande do Norte é um dos piores lugares para ser negro e jovem”, alertou Divaneide Basílio. A realidade pode ser desenhada através de dados do Atlas da Violência divulgados em agosto de 2020 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Em 2018, cerca de 75% das vítimas de homicídio no Brasil eram negras. O estudo aponta que no País, os casos de assassinatos de pessoas negras (pretas e pardas) aumentaram 11,5% em uma década. “Nós queremos que cada vez mais a exceção se torne regra, que a gente deixe de ser estatística de violência e passe a ocupar ainda mais universidades, Câmaras Municipais e muito mais”, completou a doutora em Ciências Sociais.
Conforme explicou durante a palestra, o termo interseccionalidade permite compreender melhor as desigualdades e a sobreposição de discriminações existentes na sociedade. Essa compreensão é imprescindível à mudança do comportamento atual e consequente adoção de uma política inclusiva, defendeu Divaneide Basílio. “Os sistemas de opressão tem um impacto diferente em cada pessoa de acordo com suas características, eu sou mulher, negra e vinda de periferia, sou submetida ao preconceito de gênero, de raça e de classe. As pessoas negras estão no ranking das que mais são assassinadas e as pessoas transexuais no Brasil tem expectativa de vida de 35 anos, se uma pessoa é trans e negra, acaba tendo mais chances de sofrer algum tipo de violência”.
Educação para a Cidadania Global
A palestra apresentada por Divaneide Basílio é parte da programação da disciplina Educação para a cidadania global, direcionada aos alunos dos programas de Residência Multiprofissional no Cuidado à Saúde da Pessoa com Deficiência e de Mestrado em Neuroengenharia do Instituto Santos Dumont (ISD). Ela é ministrada pelo professor-pesquisador e diretor-geral do ISD, Reginaldo Freitas Júnior.
Os ODS incluem metas globais que estão no centro da atuação do Instituto Santos Dumont, a exemplo de educação de qualidade, saúde e bem estar, inovação e o alcance da igualdade de gênero, assim como do empoderamento das mulheres e meninas.
Texto: Kamila Tuenia / Ascom – ISD
Foto: Mariana Ceci / Ascom – ISD
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Instituto Santos Dumont (ISD)
É uma Organização Social vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e engloba o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra e o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, ambos em Macaíba. A missão do ISD é promover educação para a vida, formando cidadãos por meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, além de contribuir para a transformação mais justa e humana da realidade social brasileira.