Renata Moura
Jornalista
J. tinha cerca de 20 anos quando achou que fosse morrer diante dos filhos.
Foram cinco anos de terror e agressões nas mãos e palavras do então companheiro.
“Uma violência que agride você até como mãe, que agride você na essência”, desabafa. “Muita gente acha que não vai ser vítima. Mas pode ser sim. Eu já saí de casa dentro de um camburão com os meus filhos pequenos, para fugir. Para não morrer. Então apoie, procure conversar e em nenhum momento julgue quem está passando por isso”.
O depoimento foi um dos compartilhados na manhã desta quinta-feira (27) no Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, do Instituto Santos Dumont (ISD), em ação realizada por preceptoras e residentes de psicologia e do serviço social do Anita.
A ação integra a campanha #AgostoLilás, que alerta a população sobre a importância da prevenção e do enfrentamento à violência contra a mulher.
Violências
Mulheres e homens que estavam na ‘sala de espera’ por atendimento nas clínicas do Anita foram convidados a participar do debate e a compartilhar sentimentos e experiências vividos ou testemunhados que envolvessem os diversos tipos de violência.
A ação foi realizada sob as tendas que viraram sala de espera aberta para os usuários durante a pandemia, como prevenção ao novo coronavírus.
Um varal com trechos de reportagens e explicações sobre o tema foi estendido no local e chamou a atenção de quem observava.
Violências familiar, física, institucional, moral, psicológica e doméstica estavam estampadas.
Ali, penduradas ao ar livre, as violências que chegam a ser diárias para muitas mulheres – e que podem passar despercebidas – foram exemplificadas e explicadas uma a uma, em meio a histórias de quem ouvia e chorava ao lembrar que também foi vítima.
“Muitas vezes o marido não deixa a mulher trabalhar e ela pensa: o que é que eu vou fazer sem ele?”, observou uma das participantes. J. completou com base no terror que sofreu e do qual se diz livre:
“A gente não vive assim porque quer. Mas quando a gente se levanta do sofrimento a gente se levanta forte. Das cinzas, como uma fênix”.
“Mas a gente precisa de ajuda”.
Ciclo da violência
Conhecer o ciclo da violência para identificar se está dentro dele ou para dar suporte a quem precisa é fundamental, explicaram as assistentes sociais residentes do ISD Anna Beatriz Valentim, Ciria Germano e Juciara Souza.
O ciclo da violência, explicam, tem três fases principais. A primeira é chamada de “aumento da tensão”, que é quando o agressor se irrita por coisas simples em casa.
“A comida que não está feita, a casa que não está arrumada”, tudo vira motivo de briga. Nesse estágio também é comum a mulher ser humilhada.
“Ele fala da aparência dela, vai minando a autoestima dela, a afasta do ciclo social, dos amigos, da família”. A segunda fase é o ataque – o ato de violência que ganha forma. Pode ter chute, empurrão, tapa, mas não só isso. As agressões acontecem por diferentes meios e nem sempre atingem só a pele. Nem sempre deixam marcas evidentes aos olhos de quem passa ou vive.
“Como a gente mostra que a dor no corpo também atravessa a alma?” pergunta o psicólogo residente Giovanni Sampaio. “A dor que às vezes é muito mais vista no corpo, na marca roxa que fica, também está na mente, nas palavras, em xingamentos, e é importante ser cuidada”.
A terceira fase do ciclo é a chamada “lua de mel”, em que o homem promete que vai mudar, que nunca mais vai fazer aquilo. Ele jura amor. E tudo recomeça.
Alexandra Lima, assistente social e uma das preceptoras do Instituto à frente do projeto do ISD Fazendo Direitos, que atende crianças, adolescentes, mulheres e mulheres trans vítimas de violência sexual, chama a atenção também para esse tipo de violência, que se manifesta não só na hora em que a mulher é forçada a uma relação sexual à base de violência física ou de ameaças. Impedir a mulher de tomar anti-concepcional, determinar quando ela vai ter filho ou não são outras entre as muitas faces que pode assumir.
A importância de acolhimento e apoio às vítimas é enorme, diz Alexandra. Também é preciso saber que cada mulher terá o próprio tempo de agir.
Não importa o tipo de violência que ela sofra, faz diferença dizer, observa Alexandra: “Quando você estiver preparada, eu estou aqui para ajudar”.
Veja no infográfico abaixo números da violência e (na segunda página) como denunciar:
*Participaram do planejamento e condução da atividade no ISD:
Alane Silveira da Silva – Psicóloga Residente;
Ana Patrícia Santos Dias – Psicóloga Residente;
Anna Beatriz Valentim de Souza – Assistente Social Residente;
Arilene Lisboa Araújo – Assistente Social Residente;
Camila Rodrigues Bezerra Madruga – Psicóloga Residente;
Ciria Dayanny Germano Meira – Assistente Social Residente;
Giovanni Sampaio Queiroz – Psicólogo Residente;
Juciara Gomes de Matos Souza – Assistente Social Residente.
Preceptoras de referência:
Alexandra Silva de Lima – Assistente Social;
Carla Glenda Souza da Silva – Psicóloga
Texto: Renata Moura / Jornalista / Ascom – ISD
Fotos: Renata Moura / Ascom – ISD
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Instituto Santos Dumont (ISD)
É uma Organização Social vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e engloba o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra e o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, ambos em Macaíba. A missão do ISD é promover educação para a vida, formando cidadãos por meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, além de contribuir para a transformação mais justa e humana da realidade social brasileira.