O Projeto Barriguda, desenvolvido pelo Instituto Santos Dumont (ISD) na comunidade quilombola de Capoeiras, iniciou na terça-feira, 19 de julho, a retomada das atividades presenciais após a interrupção provocada pela pandemia da Covid-19. Na ocasião, uma equipe do ISD visitou a Unidade Básica de Saúde (UBS) local, onde se reuniu com as gestantes para reintroduzir o projeto, promover a interação e oferecer atendimentos individuais às pacientes presentes.
A visita foi conduzida por Carolina Damásio, preceptora infectologista e coordenadora do projeto, e Thaíse Lopes, preceptora ginecologista obstetra. O momento propôs atividades de integração, como a produção de móbiles e leitura de livros voltados ao desenvolvimento dos bebês. Também foram feitas consultas individuais e aplicação de questionário para acompanhamento de saúde mental e física das gestantes.
Durante o período da pandemia, o serviço do Barriguda precisou ser otimizado e adaptado na esquematização dos procedimentos e no contato com as pacientes. Uma das soluções para isso, explica Carolina Damásio, foi estabelecer grupos virtuais para manter as atividades de educação em saúde e comunicação com as pacientes, enquanto os atendimentos presenciais foram transferidos para o Anita. Esse contato virtual, no entanto, não permitia um monitoramento tão completo e muitas vezes observava-se uma ausência nos atendimentos presenciais realizados fora da comunidade.
“É de extrema importância estarmos retomando para vivenciar, mais de perto, a vida das pessoas da comunidade, principalmente por causa dos problemas que vamos enfrentar e já estamos enfrentando no período pós-pandemia, como o aumento da insegurança alimentar, pobreza, gravidez na adolescência, piora da saúde mental e as consequências da diminuição do acesso aos serviços de saúde que ocorreu nos últimos anos. Uma vantagem de estar retomando presencialmente é talvez ter acesso a uma paciente que não está conseguindo chegar até nós, por vários motivos. Então indo até elas, nós conseguimos fazer essa ponte”, reforça Carolina.
Uma novidade para o projeto, que devido às medidas de isolamento social vinha oferecendo atendimento apenas nas dependências do Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita), uma das duas unidades do ISD em Macaíba, é a implementação de uma equipe fixa, alinhada aos propósitos do Barriguda, na UBS de Capoeiras. Composta por uma enfermeira, uma técnica de enfermagem, uma clínica geral, uma dentista e duas agentes de saúde, a equipe local trabalha juntamente aos profissionais do ISD, permitindo uma otimização no serviço e nas relações com as gestantes.
Pricila Eugênia, enfermeira da UBS, não trabalha há muito tempo em Capoeiras, mas observa, desde que chegou, o grande impacto proporcionado por uma atenção dedicada ao serviço de pré-natal na comunidade. “Nós temos atualmente 10 gestantes e elas vêm sempre com frequência, não deixam de nos procurar aqui. E é muito interessante que agora o Barriguda esteja voltando para cá. Como eu sempre falo para elas, esse projeto é um grande privilégio”, ressalta.
Esse impacto é algo perceptível para as pacientes presentes na ocasião. Luciana dos Santos, 27 anos, natural de Capoeiras, conta sobre suas duas gestações, ambas assistidas pelo serviço completo do Barriguda. A primeira vez que entrou em contato com o projeto foi por intermédio da própria UBS, grávida do primeiro filho, que hoje tem um ano e cinco meses. Agora, aguarda pelo primeiro atendimento após o parto do mais novo, de três meses. “As duas vezes foram muito tranquilas e mesmo com algumas dificuldades na segunda, deu tudo certo. Pra mim, o Anita caiu do céu”, afirma Luciana.
Barriguda
O Projeto Barriguda surgiu em 2015, idealizado pelos atuais coordenadores do projeto, Reginaldo Freitas Júnior, Diretor-Geral do ISD, e Carolina Damásio. Alinhado à missão do ISD de reduzir a mortalidade materno-infantil, o projeto busca levar um serviço de pré-natal de qualidade para a maior comunidade quilombola do estado do RN, considerando os altos índices de mortalidade materno-infantil no local. A construção, em todas as etapas, foi feita em colaboração com a própria comunidade.
A coordenadora Carolina Damásio conta que, durante o primeiro ano do projeto, foi observada a necessidade de transformação da equipe, frente à grande dificuldade dos preceptores conseguirem se aproximar e engajar a população. Essa experiência serviu para a implementação de uma disciplina optativa oferecida pelo Departamento de Tocoginecologia da UFRN a diversos cursos de graduação, chamada “Competência Cultural na Atenção à Saúde da Mulher Quilombola”.
Ofertada desde 2016, a disciplina possibilita o contato direto com a comunidade no desenvolvimento de atividades práticas, que ao final culminam em uma proposta de intervenção dos próprios estudantes na comunidade. “Além de toda a preparação teórica, eles têm conversas com os líderes da comunidade, historiadores, professores da sociologia, então existe toda essa formação sobre a saúde da população negra, para aprender sobre a história de Capoeiras, sobre a formação dos quilombos, etc”, explica Carolina.
Capoeiras
Localizada na zona rural do município de Macaíba, a comunidade quilombola de Capoeira dos Negros, ou Capoeiras, como também é conhecida, é considerada a maior comunidade quilombola do Rio Grande do Norte. A comunidade conta com cerca de 350 famílias em seu território, e as gestantes são atendidas desde 2015 pelo Projeto Barriguda.
Texto: Naomi Lamarck / Ascom – ISD
Foto: Naomi Lamarck / Ascom – ISD
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Instituto Santos Dumont (ISD)
É uma Organização Social vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e engloba o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra e o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, ambos em Macaíba. A missão do ISD é promover educação para a vida, formando cidadãos por meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, além de contribuir para a transformação mais justa e humana da realidade social brasileira.