Por Ariane Mondo – Ascom ISD
23/02/2016 – Última atualização: 25/02/2016
De 15 a 19 de fevereiro de 2016, os Centros de Educação Científica (CECs) – unidades Escola Alfredo J. Monteverde Natal (RN), Escola Alfredo J. Monteverde Macaíba (RN) e Serrinha (BA) – tiveram a semana de volta às aulas. Alunos antigos puderam matar as saudades tanto dos colegas quanto dos professores e os novos estudantes puderam conhecer a estrutura física e entender o funcionamento de sua respectiva unidade.
Os alunos foram recebidos pelos integrantes de cada CEC e após a apresentação das equipes das unidades, eles começaram em suas respectivas oficinas. Lá puderam se apresentar à turma e saber sobre o planejamento do ano.
Cada unidade dos CECs oferece distintas oficinas científicas a alunos cursando do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, oriundos de escolas públicas. O CEC Natal conta com seis oficinas: Ciência e Tecnologia, Ciência e Robótica, Ciência e História, Ciência e Química, Ciência e Biologia e Ciência e Física. A oficina Ciência e Comunicação é a única que, excepcionalmente, aceita tanto alunos do segundo segmento do ensino fundamental, quanto do ensino médio.
O CEC Macaíba tem quatro oficinas: Ciência e Tecnologia, Ciência e Arte, Ciência e Ambiente e Ciência e História. Assim como em Macaíba, o CEC Serrinha também oferece quatro oficinas: Ciência e Tecnologia, Ciência e Arte, Ciência e Ambiente e Ciência e Robótica. Atualmente, 1.400 alunos frequentam os CECs, nos períodos da manhã ou da tarde, sempre em horário contrário ao da escola onde estão regularmente matriculados.
Dora Montenegro, diretora dos Centros de Educação Científica, explica a filosofia dos CECs: “Trabalhamos com a ideia do conhecimento como um todo, das inter-relações entre os conhecimentos. Trabalhamos assim para evitar a fragmentação do conhecimento, que impede que os nossos alunos deem os saltos que devem dar. Eles precisam ter condições de interpretar a realidade e propor mudanças.”
Formação inicial dos educadores é a base para o trabalho anual
Entre 25 de janeiro e 05 de fevereiro, os professores das três unidades dos Centros de Educação Científica se reuniram no CEC Escola Alfredo J. Monteverde, em Natal, para passar pela formação inicial, prática rotineira em todo início de ano.
Dora Montenegro diz: “Essa reunião do começo do ano tem uma importância vital para o nosso trabalho, porque a partir da avaliação que as equipes fizeram no final do ano anterior, os educadores propõe um planejamento para o ano corrente. É esse trabalho que garante todo o sucesso da formação científica dos nossos alunos. A formação dos professores nesse planejamento inicial, esse momento de revisão e de elaboração dos planos de curso são o diferencial do nosso trabalho. É essa formação inicial que garante a efetividade de um trabalho significativo com os alunos no decorrer do ano”.
Vale ressaltar que um dos destaques dos Centros de Educação Científica é a formação continuada de professores. Além de textos, que são discutidos ao longo do ano letivo e das reuniões dos educadores, que ocorrem toda sexta-feira, na formação inicial se traz um livro para ser lido na íntegra e discutido coletivamente entre os educadores de todas as unidades dos CECs. Em 2016, 42 integrantes dos Centros leram o livro “Fundamentos da escola do trabalho” do autor russo Moisey M. Pistrak.
A assessora pedagógica dos CECs, Rachel Dantas, fala da importância de se ler esse autor: “Pistrak traz uma proposta de educação em que todos são sujeitos, todo cidadão é sujeito. Ninguém está sendo presenteado pela educação, mas tem direito a ela. O autor traz a questão da auto-organização dos alunos, que é a autonomia que a gente tanto trabalha nos CECs: nós não fazemos pelo aluno, mas ensinamos o aluno a fazer, a discutir, a se desenvolver e a batalhar pela realidade dele”.
Ao fim das duas semanas do processo de formação, os educadores compartilharam entre si os planos de curso elaborados para cada oficina. “No início do ano há muita coisa para lapidar e discutir. A gente aproveita para fazer a formação teórica de maneira aprofundada, além da reflexão sobre a prática pedagógica de cada um. Os planos de curso são os ‘guias de navegação’ e os educadores não são monitores, mas sim ‘comandantes do navio’ com os alunos, então eles precisam estar preparados. Para nós só tem sentido uma escola como um todo formador, onde todos nos formamos em conjunto, cada um assumindo rigorosamente seus encargos. É uma aprendizagem contínua e muito importante e não se faz isso sem o diálogo e sem a reflexão coletiva. Isso é um trabalho de reflexão e ação coletiva o tempo todo”, explica Rachel.
Educadores dos CECs opinam sobre a formação inicial
Joseane Souza, coordenadora CEC Serrinha (BA):
“Todo início de ano se elegem focos de trabalho que são prioritários. Além dos outros que já temos – valorização da identidade dos alunos e do raciocínio lógico deles -, colocamos focos novos que alimentam o trabalho que fazemos. Esse ano vamos fazer isso com as eleições municipais e as Olimpíadas. A gente já discute política com nossos alunos, mas nesse ano teremos foco nas eleições. Uma das bases do nosso trabalho é a formação cidadã, então esses meninos precisam compreender melhor o contexto político para além do voto. A gente sai dessa formação inicial com a reflexão da importância de, cada vez mais, ampliar o trabalho comprometido de formação crítica e cidadã dos alunos. Eles precisam entender que por meio da fundamentação científica, eles podem transformar suas vidas.”
Roselia Cristina de Oliveira, coordenadora CEC Escola Alfredo J. Monteverde Macaíba (RN):
“Eu considero as nossas formações um dos momentos mais ricos dos nossos rituais. A formação é fundamental, porque é com ela que a gente se organiza, sistematiza, consegue orientar o trabalho, organizar-se enquanto princípios e posturas comuns e é fundamental também para orientar as atividades nas oficinas com os professores. Eu acho que a mistura das unidades durante as formações é de uma riqueza fora do comum. Não consigo compreender os nossos Centros de Educação Científica sem a formação. Esse momento é ímpar, definidor e rico, porque é uma construção coletiva. E o livro que lemos contribuiu muito, porque tem bastante da nossa prática. Os professores foram enxergando muitas possibilidades e beber da obra do autor Pistrak fez perceber o quanto a gente vem caminhando, norteando princípios comuns.”
Walter Romero Jr., coordenador CEC Escola Alfredo J. Monteverde Natal (RN):
“A cada ano a gente vai se aprofundando, refletindo e ampliando um pouco mais o nosso olhar. O livro de Pistrak trouxe uma reflexão para o grupo de aprofundar as questões sociais, de refletir sobre uma pedagogia que seja mais voltada para o social, que se preocupa e se aproxima mais da realidade dos alunos. Essa leitura fez a gente perceber a importância dos estudos de meio e sair um pouco mais dos muros da escola com os alunos. Nos instiga a todos a estimularmos a autonomia dos estudantes e a auto-organização deles.”
André Carvalho, coordenador da Oficina Ciência e Biologia – CEC Natal (RN):
“A leitura do livro do Pistrak me fez entender o quanto é importante o aluno ter uma consciência do papel social dele. É primordial que os alunos se vejam inseridos em um contexto maior. O estudante é um indivíduo, mas as atitudes dele têm consequências no coletivo. O bom é que aqui nessa formação, nós temos tempo de fazer leituras, de aprofundar nas questões, de discutir. Até a maneira de fazermos isso em grupo, discutindo entre os professores, tem na prática o papel social de cada um. A gente consegue visualizar o quanto é importante essa convivência, essa troca de conhecimento entre todos.”
Gedeão Santos, coordenador da Oficina Ciência e Robótica – CEC Serrinha (BA):
“A formação foi uma injeção de ânimo para começar o ano firme de novo no que a gente acredita, na proposta do projeto dos CECs. O fato de ter lido Pistrak trouxe mais forte a aproximação com a realidade, princípio que desde sempre pautou o projeto, mas que com a leitura ficou ainda mais forte. É importante fazer as abordagens e discussões em sala de aula com foco no presente e na realidade dos meninos.”
Max William da Silva, assistente de oficina didática da Oficina Ciência e História – CEC Natal (RN):
“A formação vem para nos fortalecer mais ainda e provocar o gosto do ser professor. É importante ter a prática, mas fundamentar isso com a teoria. A nossa escola é muito bonita, porque leva em conta a transformação social, mas coloca isso com a participação também do aluno. É importante que os educandos se compreendam como indivíduos, que têm importância e uma identidade dentro da sociedade, podendo contribuir com o coletivo e é esse coletivo que faz as coisas funcionarem na sociedade. É importante ter uma educação voltada para a transformação social, para que os meninos reconheçam como é articulado o sistema onde eles vivem e para que possam ser críticos.”
Sheila Quintanilha, coordenadora da Oficina Ciência e Ambiente – CEC Macaíba:
“O livro de Pistrak veio confirmar a nossa prática, porque ele tem em sua base o trabalho com a realidade do aluno, trazendo de fora para dentro de sala de aula. O ponto chave do que se faz nos CECs é aproximar a ciência dos estudantes. Por exemplo: é importante poder falar de agricultura e agronegócio, mas trazendo para a agricultura familiar que é a realidade do meu aluno. Falar de uma alimentação saudável, mas usando como base a macaxeira, a batata o feijão que ele produz e fazê-lo perceber que aquilo que ele come é saudável, talvez até mais do que o que se compra na rua, como salgadinhos e refrigerantes. Então uma coisa que me marca muito aqui no nosso cotidiano é poder trabalhar a realidade do aluno para poder chegar na ciência. Isso tira a ciência do pedestal e faz com que o estudante consiga se apropriar cada vez mais disso.”
Saiba mais sobre os CECs:
* https://www.institutosantosdumont.org.br/centro-de-educacao-cientifica-escola-alfredo-j-monteverde/
* https://www.institutosantosdumont.org.br/centro-de-educacao-cientifica-serrinha-ba/