Desde 2015 o Instituto Santos Dumont desenvolve o Projeto Barriguda na maior Comunidade Quilombola do Rio Grande do Norte por meio do Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (CEPS). Trata-se da comunidade Capoeira dos Negros ou Capoeiras, como é mais conhecida, localizada no município de Macaíba, e que tem aproximadamente 500 famílias com acesso limitado aos cuidados adequados à saúde, ainda não contemplada por equipe da Estratégia Saúde da Família e especialmente vulnerável aos determinantes sociais do processo saúde-doença.
Em uma ação concreta de exercício da responsabilidade social, o ISD implantou nessa comunidade, estratégia interprofissional de cuidado na atenção pré-natal que busca atender às necessidades identificadas para essa população específica, respeitando os valores, conhecimentos, saberes e cultura local. Os atendimentos são realizados semanalmente na própria comunidade e precedidos por atividades de educação interprofissional em saúde que empregam tecnologias leves e valorizam o resgate histórico e cultural quilombola.
Barriguda
O projeto Barriguda faz referência à forma como a Comunidade de Capoeiras se refere ao Baobá, árvore de origem africana reverenciada pela cultura quilombola, que representa a localização dos antigos quilombos na região.
O Barriguda integra ações de educação, pesquisa e extensão, incluindo a participação de estudantes de graduação de diversos cursos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Além disso, foi objeto de dissertação do Mestrado Profissional em Ensino na Saúde (MPES), da mesma Universidade. O ano de 2016 marcou a consolidação do Projeto Barriguda e a superação do desafio da formação de vínculo com a comunidade quilombola, com desdobramentos e potencialidades crescentes. Desde 2015, ano de início do Projeto Barriguda, não houve mais casos de eclâmpsia, nem de óbitos maternos na Comunidade Quilombola de Capoeiras.
Competência Cultural na Atenção à Saúde da Mulher Quilombola
A educação das relações étnico-raciais e a História da cultura afro-brasileira estão previstas nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina e são vistas como temas transversais. Em 2016, de forma inovadora e pioneira, as atividades do Projeto Barriguda com alunos da UFRN foram sistematizadas em formato de disciplina optativa, com carga horária de 60 horas/aula, oferecida pelo Departamento de Tocoginecologia da UFRN a diversos cursos de graduação, sob o título “Competência Cultural na Atenção à Saúde da Mulher Quilombola”.
O ISD parte da premissa de que, para vencer o desafio de formar profissionais da saúde hábeis em interagir eficazmente com populações étnica e culturalmente diversas, é preciso inserir nos currículos das diversas profissões, especialmente as da saúde, o conhecimento dos processos que influenciam a saúde e os cuidados das minorias populacionais, assim como vivências relacionadas à diversidade cultural.
A possibilidade de o estudante conhecer a situação de saúde de uma população quilombola, num contexto ampliado, apresenta-se como estratégia válida para potencializar a desconstrução do racismo institucional, cultural e individual ainda presentes na sociedade brasileira. Esse racismo é capaz de perpetuar a marginalização das comunidades afrodescendentes e a relativa invisibilidade de suas contribuições e necessidades.
2018 – Projeto Barriguda (Participação social na atenção integral à saúde das mulheres. Experiências premiadas no laboratório
de inovação sobre participação social na atenção integral à saúde das mulheres. Série SUS que dá certo, 5. Brasília,
DF: OPAS; 2018)
2018 – Barriguda Project: Incorporating Cultural Competence into Education of Health Professions (Social Innovations Journal – Issue 50 – 13 August 2018)
2018 – Incorporando a Competência Cultural para Atenção à Saúde Materna em População Quilombola na Educação das Profissões da Saúde (Revista Brasileira de Educação Médica – vol.42 nº.2 Brasília abr./jun. 2018)