Do planejamento à execução, o simples ato de movimentar-se voluntariamente envolve vários processos no cérebro. Diversas condições que resultam em distúrbios motores, como a Doença de Parkinson e a lesão medular, têm sido o foco de pesquisas de base e translacionais nas neurociências, que buscam trazer soluções para a melhoria da qualidade de vida e reabilitação de funções motoras diárias de pessoas afetadas por disfunções neurológicas
Como exemplo disso, pesquisadores do Instituto Santos Dumont (ISD), Organização Social operante em Macaíba, no Rio Grande do Norte, recentemente publicaram estudo que tem como objetivo aprofundar o entendimento sobre os benefícios de um método inovador de tratamento e reabilitação motora: a estimulação elétrica da medula espinal.
A pesquisa, assinada por Fernando Fiorin, pesquisador de pós-doutorado no ISD, buscou, especificamente, investigar os efeitos da estimulação elétrica na atividade do circuito motor cerebral, ou seja, nas estruturas responsáveis pelo movimento, analisando o período antes de ocorrer o movimento (chamado de planejamento motor) e durante o movimento.
O estudo é intitulado “Spinal Cord Stimulation Modulates Rat Cortico-Basal Ganglia Locomotor Circuit” (“Estimulação da Medula Espinhal Modula o Circuito Locomotor Córtico-Basal Ganglionar em Ratos”, em tradução livre) e foi publicado na “Neuromodulation: Technology at the Neural Interface”, periódico proeminente na área da neuromodulação.
Participaram da pesquisa, ao lado de Fiorin, Mariane de Araújo e Silva e Raquel Medeiros, neuroengenheiras formadas pelo ISD, Guilherme Viana, mestrando em Neuroengenharia, e Edgard Morya, pesquisador e gerente do Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra (IIN-ELS), uma das unidades do ISD.
Um dos pontos centrais da pesquisa foram os núcleos da base, um grupo de núcleos localizados na região profunda do cérebro, especificamente na região subcortical-basal. Por ser um agrupamento fundamental para o planejamento e execução de movimentos, a maioria dos transtornos que acometem os núcleos da base causam distúrbios e sintomas motores, como, por exemplo, o Parkinson.
Por isso, a investigação dessas estruturas é essencial para iniciativas científicas que almejam fortalecer o entendimento sobre o comportamento locomotor e o tratamento de funções motoras prejudicadas.
“Acreditamos que o trabalho contribui para o entendimento dos mecanismos eletrofisiológicos em um circuito que abrange áreas cerebrais profundas e superficiais, cujo funcionamento correto é essencial para o movimento, mesmo antes de iniciá-lo”, destaca Fernando Fiorin.
Os resultados do trabalho mostram que a estimulação da medula produz um efeito de curto prazo nas áreas cerebrais do circuito motor. Isso sugere uma possível facilitação do planejamento e início do movimento por meio da neuromodulação e, portanto, considera que a caracterização eletrofisiológica proporcionada pelo estudo pode contribuir para o desenvolvimento de novas abordagens no tratamento de transtornos do movimento.
Embora o estudo não possa ser diretamente aplicado a humanos, o trabalho indica que a técnica de estimulação elétrica da medula espinal pode ser apropriada para melhorar as oscilações rítmicas cerebrais. “Desta forma, seria possível facilitar a fase do planejamento e execução do movimento, que são debilitadas em distúrbios motores”, complementa Fiorin.
SOBRE O ISD
O Instituto Santos Dumont é uma Organização Social vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e engloba o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra e o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, ambos em Macaíba. A missão do ISD é promover educação para a vida, formando cidadãos por meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, além de contribuir para a transformação mais justa e humana da realidade social brasileira.