À medida que a ciência e a tecnologia avançam, a humanidade se depara com novos desafios e questionamentos sobre como pensamos, nos comportamos e funcionamos. A pesquisa básica, um campo dedicado a explorar teorias e metodologias científicas sem foco em aplicações práticas imediatas, é uma das categorias mais utilizadas por cientistas para desvendar mecanismos e fenômenos naturais, ajudando a construir o alicerce para descobertas futuras.
O Instituto Santos Dumont (ISD), Organização Social vinculada ao Ministério da Educação (MEC), incorpora esse tipo de pesquisa no programa científico da instituição. A partir do Programa de Pós-graduação em Neuroengenharia (PPGN), pioneiro no Brasil, o ISD promove linhas de pesquisa interdisciplinares, que vão desde a pesquisa básica, em seus processos minuciosos na bancada do laboratório, a inovações em tecnologias e protocolos em saúde.
Andressa Radiske, uma das professoras pesquisadoras do ISD, reforça que, embora os resultados da pesquisa básica nem sempre tenham aplicação imediata, eles servem como base para avanços científicos que, no futuro, podem levar a novas tecnologias e tratamentos clínicos.
“Durante a graduação em Biomedicina, percebi que muitas das inovações na medicina e na farmacologia nasceram de descobertas feitas em pesquisas básicas. Os estudos sobre interações moleculares, por exemplo, foram fundamentais para a criação de fármacos. Esses avanços mostram como esse tipo de pesquisa é a base para o desenvolvimento das ciências aplicadas”, considera a pesquisadora.
Grande parte dos avanços tecnológicos que hoje são integrados ao nosso cotidiano surgiram de investigações realizadas décadas antes, sem intenções de aplicação prática. Exemplo disso é a pesquisa fundamental de Watson, Crick e Rosalind Franklin que descreveu, na década de 1950, a estrutura do DNA, sem que, na época, fosse possível prever todas as suas implicações.
No ISD, as pesquisas têm foco nas áreas de neuroengenharia, neurociências e saúde da pessoa com deficiência e combinam metodologias diversas, como análises moleculares e o uso de modelos computacionais, para investigar questões complexas. No contexto da interdisciplinaridade, a pesquisa básica desempenha o papel fundamental de verificar teorias científicas e aprofundar a base do conhecimento, o que, na prática, significa resultados mais embasados de estudos clínicos e tecnológicos.
A pesquisa básica no ISD
Parte dos professores pesquisadores do PPGN/ISD dedica sua atenção à pesquisa básica, investigando características como a memória, o envelhecimento e o aprendizado a partir de modelos animais.
A cientista argentina Maria Carolina Gonzalez, coordenadora do PPGN, conduz e orienta estudos sobre os mecanismos neurais envolvidos na formação das memórias. O objetivo principal dessas pesquisas é de compreender como o cérebro armazena diferentes informações de forma integrada, dando origem à memória episódica (lembrar de eventos e experiências pessoais). Os estudos buscam também entender como diferentes fármacos afetam a durabilidade dessa memória.
Também tendo a memória como o elemento principal de sua pesquisa, o biólogo Ramón Hypolito busca entender mecanismos ligados à formação e modificação de memórias instrumentais, relacionadas à habilidade motora e procedimentos como a realização de tarefas. Além disso, também pesquisa como a variação ambiental – por exemplo, a exposição ao estresse – pode modular a formação e manutenção de memórias.


No âmbito da reabilitação, a fisioterapeuta Caroline Cunha estuda as formas de recuperação da locomoção em casos de lesão da medula espinal. Atualmente, coordena dois projetos voltados à temática. O primeiro investiga o potencial da estimulação associativa pareada, que consiste na estimulação mútua da medula espinal e do músculo esquelético parcialmente paralisado, para restauração da marcha. Já o segundo busca caracterizar os aspectos fisiopatológicos da bexiga neurogênica decorrentes da lesão medular espinal.
Também no campo da memória, Andressa Radiske atua na caracterização de padrões comportamentais e alterações eletrofisiológicas associadas à formação e expressão de memórias aversivas, ligadas ao medo e ao trauma. A pesquisa tem como foco identificar os fatores que tornam essas memórias mais ou menos suscetíveis à ação de fármacos que induzem amnésia seletiva.
Já o trabalho de Felipe Fiuza, biólogo de formação, é dedicado à compreensão sobre como as células cerebrais envelhecem. Com o aumento da expectativa de vida nas sociedades modernas, as doenças relacionadas ao envelhecimento do cérebro já figuram entre as principais causas de morte no mundo. Por isso, o neurocientista tem como foco investigar a identidade química do cérebro e como esta se diferencia no envelhecimento saudável em relação ao desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
“Os resultados gerados pelo meu grupo de pesquisa ajudam a explicar por que as pessoas envelhecem em ritmos diferentes e quais áreas cerebrais são mais vulneráveis aos danos causados pelo Alzheimer. Espero que, no futuro, essa pesquisa contribua para melhorar a qualidade de vida das pessoas que estão vivendo mais”, pontua o pesquisador.



Sobre o ISD
O Instituto Santos Dumont (ISD) é uma Organização Social vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e engloba o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra e o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, ambos em Macaíba. A missão do ISD é promover educação para a vida, formando cidadãos por meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, além de contribuir para a transformação mais justa e humana da realidade social brasileira.