O Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, do Instituto Santos Dumont (ISD), encerra nesta quarta-feira (16) as atividades 2020 de capacitação em epilepsia para equipes médicas e de enfermagem com atuação na rede básica de saúde de Macaíba/RN. A iniciativa tem a intenção de estender a programação, em datas ainda não definidas, para qualificar profissionais também de outras regiões do estado. Para 2021, são previstas formações em áreas como microcefalia e Transtorno do Espectro Autista (TEA), nas quais o Anita/ISD também é referência no estado.
A clínica de Epilepsia do Centro Especializado em Reabilitação Auditiva, Física e Intelectual (CER-III) do Anita é referência no Rio Grande do Norte em assistência a epilepsias refratárias – as epilepsias com crises de difícil controle – e identificou carências na rede básica de saúde com relação ao diagnóstico e acompanhamento de demandas de epilepsia acompanhados na rede básica.
“O Anita tem se tornado referência no tratamento das epilepsias refratárias, mas as epilepsias não-refratárias – aquelas menos graves e que respondem à medicação – precisam ser conduzidas nas unidades básicas”, diz a neuropediatra Celina Reis. “Por isso, nosso objetivo é capacitar os profissionais dessas unidades para que eles saibam fazer o acompanhamento, diagnóstico, possíveis encaminhamentos e dar todo o suporte que o paciente precisa”.
O acompanhamento dos casos de epilepsia controlada, a epilepsia não refratária – alvo da capacitação realizada no Anita, segundo Celina – pode ser feito na rede básica de saúde através de prescrição de algumas medicações e, por exemplo, monitoramento dos sintomas. “Quando o paciente responde às medicações, tem aquele quadro controlado, ele pode continuar sendo monitorado pela atenção básica. Já os casos graves que recebemos são aqueles que, por exemplo, chegam à terceira medicação sem resposta, e chegam à falência ou desmaio”, explica Celina.
Capacitação
Nesta quarta (16), cerca de 15 profissionais que atuam nas zonas rural e urbana de Macaíba compuseram a segunda turma da capacitação sobre epilepsia. Em novembro, o Anita/ISD recebeu a primeira turma do curso, que tinha previsão para acontecer em março, mas foi suspenso em razão da pandemia.
A enfermeira da Unidade Básica de Saúde (UBS) Morada da Fé, zona urbana de Macaíba, Naiara Rêgo, conta que chegou à capacitação no Anita/ISD com a intenção de melhorar a forma de abordagem a pacientes com epilepsia. “Esse ano eu recebi duas crianças que chegaram na UBS tendo convulsões. Nesses momentos a gente entende a importância do diagnóstico precoce, de saber identificar o problema e se necessário encaminhar e fazer a ponte com o Centro de Referência. É um enriquecimento profissional, pessoal e claro, para ajudar os pacientes que recebemos”, relata Naiara.
Também enfermeira do município, Gracimália Trindade, que atua na UBS Vila São José, zona urbana de Macaíba, conta que observa muitos estigmas relacionados à epilepsia. “Muitos pacientes chegam e tem vergonha até de relatar suas crises. Existe ainda um certo preconceito em relação a esses problemas neuropsicológicos. Nós que estamos em contato frequente com a comunidade precisamos entender a patologia para tentar desconstruir esses medos e reforçar a importância de procurar ajuda e ter um acompanhamento bem direcionado. Por isso é importante estar aqui para adquirir esse conhecimento e repassar aos nossos locais de atuação”, disse.
A capacitação acontece no Anita durante todo o dia e conta com oficina sobre epilepsia infantil e aulas sobre anamnese, tipos de crise, descrição clínica de síndrome epiléptica, diagnóstico e tratamentos.
A taxa de capacitação das equipes de saúde é um dos indicadores do Instituto Santos Dumont acompanhados e avaliados pelo Ministério da Educação, órgão do governo federal ao qual o Instituto é vinculado desde 2014.
As ações na área são realizadas de forma discutida, planejada e a partir da problematização do trabalho que os profissionais realizam na prática. Planejamento familiar e a atuação da atenção primária à saúde no cuidado às pessoas vivendo com HIV/AIDS estavam entre os temas na agenda programada para 2020, que acabou, porém, adiada por causa da pandemia de Covid-19.
A capacitação sobre epilepsia desta quarta foi a segunda realizada no ano. De acordo com a equipe à frente da iniciativa, são esperadas novas turmas do curso para 2021, além de outras formações sobre microcefalia e Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O que é epilepsia
A epilepsia é considerada uma das doenças neurológicas mais comuns que existem e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), afeta cerca de 50 milhões de pessoas no mundo.
A doença pode provocar convulsões ou crises não convulsivas, entre elas crises de “ausência” – em que a pessoa parece “desligar” por alguns instantes, podendo retomar em seguida o que estava fazendo – e, por exemplo, sensações como distorções de percepção, movimentos descontrolados de uma parte do corpo ou medo repentino, conforme descrição da Liga Brasileira de Epilepsia.
“As crises não convulsivas”, segundo o Ministério da Saúde, “são, muitas vezes, difíceis de serem diagnosticadas, exceto quando evoluem para uma convulsão”. A epilepsia, segundo MS, pode ser prevenida e controlada em até 70% dos pacientes.
Texto: Kamila Tuenia – Estagiária de Jornalismo / Ascom – ISD
Fotos: Kamila Tuenia/ Ascom – ISD
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Instituto Santos Dumont (ISD)
É uma Organização Social vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e engloba o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra e o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, ambos em Macaíba. A missão do ISD é promover educação para a vida, formando cidadãos por meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, além de contribuir para a transformação mais justa e humana da realidade social brasileira.