A maioria das pessoas que vive com HIV/AIDS no Brasil já passou por pelo menos uma situação de discriminação ao longo de suas vidas.É o que indica uma pesquisa do Índice de Estigma em relação às pessoas vivendo com HIV/AIDS – Brasil, onde 64,1% dos entrevistados confirmam que sofreram preconceito por serem soropositivos.
O dado aponta a discriminação como um dos fatores que dificultam a adesão de pessoas vivendo com HIV/AIDS ao tratamento adequado, diz a psicológa e preceptora multiprofissional do Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, do Instituto Santos Dumont, Carla Glenda Souza. O assunto foi abordado por ela na tese de doutorado em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que defendeu – e foi aprovada – nesta segunda-feira (09).
O trabalho ‘Avaliação da adesão ao tratamento em pessoas vivendo com HIV/AIDS’ foi realizado no Serviço de Assistência Especializada em HIV/AIDS do Hospital Giselda Trigueiro, em Natal/RN e avalia os fatores que interferem e/ou facilitam o acesso ao tratamento e acompanhamento de pessoas que vivem com HIV/AIDS.
“Existe a dificuldade de relacionamento com o serviço (de saúde), o medo, o estigma social que as pessoas com esse diagnóstico ainda carregam e por isso acabam evitando fazer o início do tratamento por negação da doença, por não acreditarem que estão infectadas. Esse medo, esse estigma que pesa muito faz até com que as pessoas mudem de endereço, criem uma nova roupagem para si, tentando fugir da realidade”, conta a psicóloga.
Formada em Psicologia pelo Centro Universitário de João Pessoa e mestre em Ciências da Saúde pela UFRN, Carla Glenda trabalha na assistência a pessoas vivendo com HIV/AIDS há vinte anos, desses, quatro são no Anita/ISD, onde é responsável pelo Serviço de Assistência Especializada Materno-infantil para Gestantes vivendo com HIV/Aids, Crianças Expostas ao HIV, Crianças e Adolescentes vivendo com HIV/Aids e Serviço de Atenção a Vítimas de Violência Sexual.
De acordo com Carla, uma das características essenciais do tratamento a esses pacientes é a multidisciplinaridade, sendo a psicologia responsável pelo apoio emocional. “É importante essa atuação da equipe em conjunto porque tem informações sobre o paciente desde o diagnóstico que são de responsabilidade de médico, enfermeiro, infectologista, por exemplo. A psicologia entra na assistência e no apoio emocional, com relação a como foi esse diagnóstico, o que o paciente pensa para sua vida, que dúvidas e medos existem. Assim a gente identifica também outras necessidades, por exemplo, apoio do Serviço Social para alguma orientação e todo esse suporte em conjunto faz com que o paciente se sinta acolhido e não tenha receio sobre o tratamento”, explicou.
Qualificação contínua
A preceptora multiprofissional do Anita/ISD, Carla Glenda, faz parte de um quadro cada vez maior de colaboradores do Instituto Santos Dumont em um processo contínuo de qualificação. Dentre o quadro de colaboradores, preceptores e professores que atuam na formação de novos profissionais – alunos de Multiprofessional Residence ou de Residência Médica e de estágios na graduação em cursos da área de saúde -, 35% são mestres, 26% doutores e 37%¨especialistas nas áreas em que atuam.
Para o diretor-geral do ISD, Reginaldo Freitas Júnior, o exemplo dos profissionais que estão buscando cada vez mais qualificação fortalece a atuação do Instituto como escola.
“O ISD celebra cada uma dessas vitórias pessoais, entendendo que elas também são vitórias institucionais, pois isso fortalece nossa atuação como escola para as profissões da saúde. O Instituto é feito pelas pessoas que decidiram trabalhar aqui porque compartilham nossa missão e nossos ideais. Sempre repetimos a palavra Ubuntu como um valor do ISD e o seu significado traduz muito bem o que acreditamos: eu sou porque nós somos”, disse.
Em dezembro de 2020, a preceptora multiprofissional Assistente Social do Anita/ISD, Alexandra Lima, também recebeu o título de Mestre em Ensino da Saúde, pela UFRN. Alexandra desenvolveu uma Matriz de competências comuns para a prática Interprofissional no cuidado às pessoas em situação de violência, com o objetivo de que pessoas em situação de violência sexual sejam acolhidas com urgência, empatia e cuidados interprofissionais.