Com 51% dos 1.345 óbitos por aids da última década registrados nos últimos cinco anos, o Rio Grande do Norte ocupa o primeiro lugar do Nordeste e sétimo do Brasil no ranking elaborado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde que considera os indicadores de detecção do HIV e mortalidade por aids entre 2017 e 2021. Os dados destacam a importância de ampliar a discussão sobre a infecção pelo vírus HIV, com a maior disseminação de informações sobre as múltiplas medidas de prevenção e tratamento para a doença. No ano de 2020, a região Nordeste registrou 25% dos 32.701 casos de infecção pelo HIV no Brasil.
De 2020 para 2021, a detecção de HIV caiu de 1122 para 809. Em contrapartida, houve um aumento de 17% nos casos de aids, de 588 em 2020 para 693 em 2021. A paralisação dos serviços de saúde e necessidade de interrupção de atendimentos que deveriam acontecer regularmente, podem ter sido a causa de haver, simultaneamente, uma diminuição na detecção e um aumento do nível grave da infecção.
Para a preceptora infectologista do Instituto Santos Dumont (ISD) Manoella Alves, a pandemia trouxe “inúmeros prejuízos para doenças que possuíam necessidade de cuidado rotineiro”, não apenas no cenário de HIV e aids, mas em pessoas com hipertensão, diabetes e endocrinopatias.
“Houve um prejuízo nos atendimentos de rotina, e isso fez com que novos diagnósticos não fossem feitos. Além disso, as pessoas tiveram dificuldades de chegar aos serviços de saúde. A perspectiva agora é que essas atividades já tenham sido retomadas e que as pessoas estejam sendo cuidadas adequadamente”, complementa a infectologista.
O HIV é o vírus da imunodeficiência humana, que é transmitido mais comumente por meio da relação sexual desprotegida, e age principalmente no enfraquecimento do sistema de defesa do corpo. A aids, por sua vez, é a doença crônica que se origina do agravamento da infecção por HIV, quando as defesas estão em níveis extremamente baixos e o corpo passa a se tornar incapaz de combater outras infecções. Esse agravamento não ocorre imediatamente após a infecção: o vírus do HIV é considerado silencioso, podendo levar anos até o indivíduo infectado manifestar algum sintoma. Por isso, é importante a prevenção e a detecção o mais cedo possível.
Ainda segundo a preceptora infectologista Manoella Alves, para se prevenir é necessário conhecer a infecção e saber como se proteger.
“O que as pessoas precisam saber é que a principal forma de transmissão do HIV é via sexual. Então, sempre que a relação sexual, seja qual for, é desprotegida, existe a chance de contaminação caso uma das pessoas esteja infectada. Muitas vezes o HIV é silencioso no início, então mesmo que a pessoa esteja saudável no momento, pode já ter a infecção e transmití-la”, explica.
Também é fundamental disseminar o conhecimento sobre medidas básicas de prevenção, que devem ser naturalizadas como meios de cuidado a serem adotados no dia-a-dia por todas as pessoas, em qualquer relacionamento. São diversas as estratégias que reduzem ou evitam o aumento de infecções pelo HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), que juntas, compõem a “Mandala da Prevenção Combinada”, política estabelecida pelo Ministério da Saúde e adotada por profissionais da área.
“As estratégias podem ser: a utilização de preservativos e gel lubrificante durante as relações sexuais; diagnosticar e tratar as pessoas que têm alguma infecção sexualmente transmissível, incluindo o HIV; fazer a Profilaxia Pós-Exposição, depois de uma possível exposição ao HIV; a Profilaxia Pré-Exposição, voltada para a proteção contra o vírus e as imunizações, que consistem basicamente estar em dia com as vacinas contra as doenças como o HPV e hepatite”, explica Manoella.
A infectologista reforça que essas medidas podem ser combinadas, a fim de se obter uma forma mais completa de prevenção e cuidado, sendo possível, por exemplo, fazer o uso do preservativo e Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP).
Cuidado com gestantes
Por muitos anos, o HIV e a aids foram associadas à população LGBTQIA+. Entretanto, a infecção pelo vírus é uma realidade em toda a sociedade, inclusive entre gestantes e crianças. Entre as gestantes, os números também demonstram crescimento no estado. De 2017 a 2021, foram registrados 494 casos de infecção por HIV nesse público. Em comparação aos cinco anos anteriores, 2012 a 2016, houve um aumento de 17%.
A infectologista Manoella Alves reforça a importância da gestante manter o mesmo cuidado que as demais pessoas: evitar relações sexuais sem proteção. Existe, no entanto, um risco adicional para esse público, devido à possibilidade de transmissão vertical, que de acordo com o Boletim Epidemiológico da Sesap de 2021, é a categoria de exposição predominante nos casos de crianças infectadas com o HIV, atingindo o percentual de 76,9%.
Se a gestante testa positivo durante a gestação, inicia-se o tratamento para tornar a carga viral indetectável, isto é, deixá-la em níveis tão baixos que não se consegue detectar o vírus no sangue. Isso não representa a cura para a infecção, mas diminui consideravelmente a chance de transmissão na gestação e no parto.
De acordo com Manoella, ter o HIV não impede que as mulheres engravidem, mas é de suma importância saber o diagnóstico antes de engravidar, para que seja possível organizar a gestação de forma que o bebê nasça saudável. “Na gestação, de acordo com os exames será possível dizer qual o tipo de parto a mulher deve ser submetida (normal ou cesariana) e no momento do parto são instituídos também alguns outros protocolos, tanto para a gestante como para a criança, para que no final tenhamos uma criança não infectada pelo HIV”, explica a infectologista.
Text: Naomi Lamarck / Ascom – ISD
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